por Dr. Luíz Flávio Cordeiro
A síndrome dos ovários policísticos (SOP) foi descrita em 1935 por Stein e Leventhal, que identificaram a relação entre determinados sintomas – amenorreia, que é a ausência de fluxo menstrual, obesidade, hirsutismo, caracterizado pelo crescimento de pelos em locais incomuns no corpo feminino – e morfologia de ovários policísticos ao ultrassom. No entanto, apenas em 1990 houve o primeiro consenso a respeito dos critérios diagnósticos.
A SOP é uma doença endócrina caracterizada pela presença de características hiperandrogênicas (clínicas e/ou laboratoriais), anovulação crônica e/ou aspecto morfológico microcístico dos ovários pelo ultrassom. Na SOP, pode haver um aumento da produção de testosterona (hormônio masculino que, normalmente, mantém-se em baixos níveis na mulher), provocando sintomas visíveis no corpo e outros que não são aparentes, mas devem ser investigados.
Esse aumento da testosterona provoca diversos efeitos, um deles o distúrbio de outros hormônios, como o FSH e o LH, fazendo com que o corpo feminino produza esses hormônios em excesso e amadureça um número maior de folículos, que não se rompem durante a menstruação e se acumulam nos ovários.
A SOP pode estar presente em cerca de 6-20% das mulheres em idade reprodutiva, sendo, possivelmente, a doença endócrino-metabólica mais prevalente em mulheres nesta faixa etária, podendo ter início ainda na adolescência. Associada à anovulação (ausência de ovulação), está fortemente relacionada a infertilidade.
A doença não tem uma cura definitiva, mas existem tratamentos que reduzem ou eliminam os efeitos da síndrome. Os hábitos de vida também interferem diretamente na evolução da doença, sendo uma forma de prevenção.
As principais consequências da SOP são as repercussões metabólicas, cardiovasculares e na fertilidade das mulheres acometidas, também podendo estar associada a doenças malignas do endométrio.
Cada caso deve ser avaliado individualmente, devendo-se sempre procurar auxílio médico ao se notar sintomas.
A SOP é uma doença complexa, de causa desconhecida, com características multigênicas, e está relacionada, principalmente, a:
Observa-se uma maior prevalência de SOP em mulheres com histórico familiar da doença. Distúrbios em genes relacionados à atividade dos androgênios e à ação e à produção da insulina e das gonadotrofinas provavelmente estão envolvidos no surgimento e desenvolvimento desse agravo.
Estima-se que cerca de 50% das mulheres que tenham SOP sejam obesas, e a ampla maioria desenvolve quadro de resistência à insulina, que leva à hiperinsulinemia. O ganho de peso é um alto fator de risco para o desenvolvimento da SOP. Com o aumento do peso e o acúmulo de gordura abdominal, aumenta-se a resistência à insulina, hormônio secretado pelo pâncreas para facilitar a absorção da glicose pelas células, e o corpo passa a produzir mais insulina. Conforme a quantidade de glicose aumenta, a necessidade de absorção também se eleva, exigindo que o corpo aumente a produção de insulina, e, subsequentemente, afeta a produção de androgênios, principalmente da testosterona.
Os principais fatores ambientais são o aumento do peso (dieta inadequada) e o sedentarismo. A combinação desses dois fatores pode desencadear diversas doenças e complicações, inclusive a SOP.
A SOP é um fator de risco para doenças cardiovasculares, portanto deve ser acompanhada e tratada por um profissional médico.
Os sintomas estão relacionados diretamente com o diagnóstico. Os National Institutes of Health (NIH), em 1990, elaboraram a primeira definição clínica da SOP: síndrome que se desenvolve em consequência de um quadro de anovulação crônica hiperandrogênica, com disfunção menstrual e excesso de hormônios androgênicos.
Depois dessa definição, foram elaborados (e atualizados) dois outros principais critérios diagnósticos da SOP: Consenso de Roterdã, de 2003, e o da The Androgen Excess and PCOS Society, de 2006.
No Consenso de Roterdã, o entendimento foi que a SOP é desencadeada por um distúrbio na produção de androgênios, principalmente a testosterona, pelos ovários. De modo geral, ampliou-se os critérios diagnósticos. De acordo com o Consenso, a SOP deve ser diagnosticada na presença de dois dos três seguintes sintomas:
Fica evidente que o diagnóstico de SOP é baseado na exclusão de outras etiologias. Como são sintomas comuns a outras condições, precisamos ter certeza de que se trata da SOP antes do início do tratamento.
Assim sendo, os sintomas estão relacionados com o diagnóstico da doença e os mais comuns são:
A avaliação da paciente começa no consultório. Fazemos uma anamnese completa para verificar o histórico familiar e outras informações importantes do cotidiano da paciente, como a característica dos ciclos menstruais, alimentação, frequência de prática de exercícios físicos, sintomas, entre outras. Essa etapa é importante para conhecermos a paciente, saber de seus planos, o desejo reprodutivo, o que nos ajuda a estabelecer a investigação e fazer o planejamento terapêutico.
Depois da anamnese, fazemos o exame físico. Esses dois procedimentos já permitem a suspeita de SOP ou de outras doenças. No entanto, ainda assim é importante solicitar exames. Os mais solicitados são:
A avaliação hormonal envolve todos os hormônios que podem estar relacionados à SOP e a seus diagnósticos diferenciais: FSH, LH e prolactina, produzidos pela hipófise; T4 livre e TSH, produzidos pela tireoide; e hormônios androgênicos, como testosterona. A avaliação da tolerância oral à glicose é importante para avaliar a resistência à insulina, uma das principais repercussões metabólicas da SOP.
O exame físico completo com aferição do índice de massa corpórea (IMC), medida da circunferência abdominal e da pressão arterial é importante em toda consulta. Em contrapartida, não há evidência, atualmente, de que outros exames cardiovasculares se fazem necessários.
Esses exames fornecem dados suficientes para o diagnóstico da SOP.
Não há um tratamento universal para SOP, devendo ser orientado de acordo com os sintomas apresentados.
Mudanças no estímulo de vida são fundamentais, com a re-educação alimentar e prática constante de exercícios físicos.
Pacientes com sintomas leves podem não necessitar de intervenções, contudo como não há medicações aprovadas direcional e especificamente para SOP. O objetivo do tratamento deve ser norteado pelas possíveis repercussões.
Se a mulher não tiver a intenção de engravidar, pode-se fazer o tratamento com anticoncepcionais orais, que regulam os ciclos menstruais. Foram desenvolvidos anticoncepcionais com hormônios antiandrogênicos, ou seja, que atenuam os sintomas do hiperandrogenismo.
Caso a mulher queira engravidar e apresente infertilidade, pode ser necessário a utilização de técnicas de reprodução assistida.
Se os exames identificarem níveis elevados de insulina, também precisamos controlar a glicemia, pois há risco cardiovascular e de diabetes, complicações que agravariam o quadro de SOP e gerariam outros problemas futuros. Existem medicamentos que atuam diretamente no sistema metabólico feminino para reduzir a resistência à insulina, aumentando o metabolismo da glicose.
A investigação detalhada é fundamental para estabelecermos a melhor conduta terapêutica individualmente e proporcionar melhora à paciente.
Muito interessante,tirou todas as minhas duvidas!