por Dr. Luíz Flávio Cordeiro
A ultrassonografia, também denominada ecografia, é um exame diagnóstico que permite a visualização de órgãos do corpo humano para avaliação de anormalidades. Trata-se de um dos exames mais solicitados e realizados para investigar patologias masculinas e femininas, assim como para acompanhar a gestação (pré-natal) e o desenvolvimento do bebê no útero materno.
Embora seja um exame de imagem, como o raio-X, a ultrassonografia não emite radiação, podendo ser indicada para gestantes. As imagens são formadas pela emissão de som em uma frequência (altíssima) que o ouvido humano não capta.
Existem diferentes tipos de ultrassonografia. Cada um deles utiliza um instrumento (transdutor) apropriado à investigação que se pretende fazer. Uma das ultrassonografias mais importantes para a ginecologia é a especializada para endometriose com preparo intestinal, que possibilita a análise e o mapeamento minucioso da doença, com alto grau de detalhamento, para o diagnóstico e elaboração do planejamento terapêutico.
Neste texto, vamos falar especificamente sobre a ultrassonografia especializada para endometriose. Se você quiser saber mais sobre os tipos de ultrassonografias, leia aqui o texto específico que elaboramos.
A endometriose é uma patologia que ainda suscita dúvidas e gera medos, muitas vezes infundados. Assim sendo, quando a mulher percebe algum sintoma que pode estar relacionado à doença, é fundamental procurar auxílio médico para uma correta orientação.
A endometriose é uma doença estrogênio-dependente que se caracteriza pela presença de células semelhantes às que formam o tecido endometrial fora da cavidade uterina, com mais frequência na região pélvica, como peritônio, região retrocervical, ovários, tubas uterinas, bexiga e intestino.
A cada ciclo menstrual natural, o endométrio, por ação hormonal, se torna mais espesso e descama caso não haja a concepção. Na endometriose, esse material que descama, em vez de ser eliminado na menstruação, retorna, em um processo de refluxo, e se fixa nesses outros órgãos da região. Por diversos fatores, durante a menstruação esses focos endometrióticos também sofrem a ação dos hormônios, descamando e provocando uma reação inflamatória no local, o que gera os sintomas e as consequências da endometriose.
A prevalência dessa patologia está em torno de 5% a 15%, sendo uma das doenças femininas mais comuns.
Existem duas principais classificações da endometriose. A primeira é a da American Society for Reproductive Medicine (ASRM), baseada em pontuações, de acordo com achados cirúrgicos, que classificam a patologia em 4 níveis: 1 – mínima; 2 – leve; 3 – moderada; e 4 – severa. A segunda classificação é a proposta por Brosens et al., baseada nos aspectos morfológicos da doença: peritoneal superficial, ovariana (endometrioma) e infiltrativa profunda. É comum a coexistência de diferentes tipos de lesões na mesma paciente.
Para saber mais sobre a endometriose especificamente, acesse aqui o texto que elaboramos sobre a doença.
A endometriose é uma doença de difícil diagnóstico. A investigação e intervenção definitivas são feitas por laparoscopia, uma vez que ela consegue identificar diferentes tipos de lesões e em diversas regiões. No entanto, a ultrassonografia especializada se tornou um recurso valioso para diagnóstico e mapeamento das lesões, assim como para orientação da continuidade da investigação e planejamento terapêutico futuro.
Assim sendo, essa modalidade de ultrassonografia não é apenas um método diagnóstico, mas de mapeamento das lesões que podem estar afetando diversos órgãos femininos. Nesses dados se baseiam o diagnóstico e o tratamento.
O procedimento é semelhante à ultrassonografia transvaginal. No entanto, associa-se um leve preparo intestinal, para que se diminua o conteúdo gasoso intestinal, permitindo um detalhamento maior das lesões, principalmente do compartimento posterior da pelve e da fossa ilíaca direita (ceco, íleo e apêndice). Tem uma duração maior, cerca de 1 hora, em virtude do nível de detalhamento.
A indicação da ultrassonografia especializada é feita com base em suspeita clínica. Se a mulher não tiver nenhuma queixa ou sintomas que possam estar relacionados à endometriose, esse exame não será solicitado.
A ultrassonografia especializada identifica a endometriose ovariana e infiltrativa (geralmente não identifica lesões muito superficiais) nas seguintes regiões: retrocervical, retossigmoide, septo retovaginal, canal vaginal e bexiga. Depende sobremaneira do operador, sendo fundamental sua realização por médico habituado e adequadamente treinado nessa técnica. Com o avanço nessa área, até mesmo algumas lesões peritoneais têm sido identificadas por esse método diagnóstico.
O exame tem alta sensibilidade para detectar a endometriose nessas regiões. Também tem resultados superiores à ressonância magnética para identificar as lesões e o nível de infiltração nas paredes do intestino.
Havendo o diagnóstico de endometriose, a ultrassonografia especializada é indicada, principalmente, para a investigação e mapeamento de lesões ovarianas (endometriose ovariana – endometriomas) e/ou profundas para futura intervenção. Isso aumenta a precisão e efetividade da laparoscopia para retirada dos focos da afecção e orienta a formação da equipe que atuará na cirurgia.
A ultrassonografia especializada para endometriose requer preparo intestinal, uma vez que analisará partes do intestino. Esse preparo tem o principal objetivo de reduzir a quantidade de resíduos e quantidade de gás que normalmente permanecem na região.
No dia anterior ao exame, a mulher deve fazer uma dieta específica, respeitando a restrição alimentar, e fazer uso de medicamentos que auxiliarão na limpeza intestinal. No dia do exame, deve-se manter a dieta e fazer a limpeza do intestino com medicação. Todo esse procedimento é simples, não sendo tão rigoroso ou completo como o preparo para a realização de uma colonoscopia. Peça esclarecimentos no momento do agendamento.
A mulher deve estar em jejum de, no mínimo, 3 horas.
Esse exame pode ser feito em qualquer momento do ciclo menstrual e não tem contraindicações.
A ultrassonografia é um procedimento de baixa complexidade, sem contraindicações, de fácil preparo, de curta duração e de alta sensibilidade, que não requer internação nem cuidados especiais posteriores; a mulher volta a sua rotina logo após o término do exame. Com isso, o exame tem sido cada vez mais indicado e há estudos para ampliar suas indicações.