Dr. Luiz Flávio
O HPV é uma das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) mais comuns, embora seja transitória: na maioria das vezes tende a regredir espontaneamente. Porém, também pode persistir, principalmente quando é causada por um tipo viral com potencial para causar câncer.
Nesse caso, pode ocorrer o desenvolvimento de lesões precursoras, que se não forem identificadas e tratadas tendem a progredir para o câncer, principalmente no colo do útero, embora também possa desenvolver em outras regiões, como vagina, vulva, ânus, pênis, orofaringe e boca.
Continue a leitura para conhecer a relação do HPV com o câncer de colo do útero.
O que é HPV e quais são os tipos?
HPV, sigla em inglês para Human Papiloma Virus, é um grupo que abrange mais de 150 tipos diferentes de vírus. São agentes que infectam as células epiteliais da pele e da mucosa provocando lesões papilomatosas, que incluem as verrugas, condilomas e pólipos. Cerca de 40 tipos podem infectar o trato genital e, dentre esses, 12 têm alto risco de causar câncer no colo de útero, vagina, vulva, pênis, anus e região oral.
A associação do vírus ao surgimento do câncer teve início na década de 1940, quando o infectologista George Papanicolau introduziu o exame que leva seu nome para detectar a doença no colo uterino, possibilitando, assim, relacionar a atividade sexual com a presença do carcinoma (neoplasia maligna originária de células epiteliais).
Entretanto, apenas na década de 1990, com o avanço da tecnologia molecular, estudos identificaram DNA viral nas amostras de tecidos com câncer de colo do útero, de vagina, de pênis e de anus em praticamente todos os casos analisados, sendo raro o aparecimento da doença nesses locais por outra causa.
Anos depois verificou-se que as lesões verrucosas que podem ser potencialmente malignas não dependem somente da presença do vírus e sim do tipo, da persistência e da evolução das mesmas.
Vias de transmissão e prevenção
O HPV é extremamente contagioso e é possível se infectar com uma única exposição. Sua transmissão acontece com o contato direto da pele ou mucosa contaminada, sendo a principal via a sexual, que inclui toque oral-genital, genital-genital e manual-genital.
Existe, também, a possibilidade de transmissão vertical, ou seja, de mãe para filho durante o parto normal. Nesse caso, o recém-nascido pode desenvolver uma condição chamada ‘Papilomatose Respiratória Recorrente’, um tumor benigno causado pelo HPV que atinge o trato respiratório e que pode ser potencialmente perigoso.
Muitas pessoas não apresentam nenhum tipo de sintomas por anos e podem, mesmo assim, transmitir o vírus. Dessa forma, a prevenção e o tratamento das lesões persistentes são muito importantes para diminuir a incidência dos carcinomas.
O uso de preservativos, indispensáveis para prevenir a maioria das DSTs, não impede cem por cento a infecção pelo HPV, pois frequentemente as lesões estão presentes em outros locais que eles não protegem. Mesmo assim, seu uso é imprescindível.
Existem também vacinas que protegem contra os tipos mais agressivos do vírus, o 6, 11, 16 e 18, no entanto a paciente continua vulnerável a outros.
Assim, é extremamente importante realizar anualmente o exame preventivo Papanicolau, além de sempre estar atenta ao surgimento de lesões desse tipo nas regiões genitais e oral, algo que deve ser informado ao médico o mais rápido possível para que haja o acompanhamento e o tratamento, evitando a progressão da doença.
Estudos verificaram que a incidência desses carcinomas em países desenvolvidos diminuiu drasticamente com o tratamento das lesões preventivamente. Portanto, a prevenção e o tratamento são as principais formas de combate a esses cânceres.
O que é câncer de colo de útero e qual sua relação com HPV?
O câncer de colo de útero, também chamado de câncer cervical, é um tumor maligno originário da proliferação anormal, na maioria dos casos, de células epiteliais de revestimento, sendo, portanto, um carcinoma.
A neoplasia tem características malignas, pois tem presença de células diferentes do tecido de origem, crescimento rápido e infiltrativo, mitoses com aspecto atípico, presença frequente de necrose e sangramentos, além de metástase.
A infecção pelo HPV causa o surgimento das lesões precursoras: o DNA viral pode se integrar ao DNA da célula hospedeira e resultar na interrupção da produção de uma proteína chamada E2, responsável por inibir negativamente genes encarregados pela supressão tumoral, dessa forma, a capacidade que a célula tem de não se transformar em um tumor é comprometida pelo vírus.
Mesmo com a diminuição de sua incidência pelo mundo, o câncer de colo do útero ainda é a quarta causa de morte por neoplasias malignas em mulheres do Brasil. Nas fases iniciais ele é assintomático, quando os primeiros sintomas aparecem, geralmente são sangramento vaginal depois das relações sexuais e corrimento vaginal de cor escura com mau cheiro.
Entretanto, em estágios mais avançados da doença outros podem aparecer, como massa palpável em útero, obstrução das vias urinarias e intestinais, dor lombar, perda de peso e de apetite.
O exame citopatológico Papanicolau, quando realizado frequentemente permite identificar a existência de alterações celulares típicas da infecção pelo HPV ou de lesões pré-malignas, para então, removê-las cirurgicamente.
Caso a lesão observada já possua características malignas é realizado um estadiamento da doença: enquadrá-la, por meio de biopsia, exame físico e Raio X de tórax, em graus que variam do I ao IV, para determinar quais exames adicionais serão necessários e qual abordagem será dada ao tratamento.
O tratamento vai depender do estadiamento do tumor. Em casos mais leves normalmente é feita a excisão cirúrgica, retirando-se completa ou parcialmente o útero e as cadeias de linfonodos adjacentes. Já em casos moderados ou graves, quando há disseminação e metástase, é realizado por meio de radioterapia e quimioterapia.
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