Dr. Luiz Flávio
Aborto é um tema muito delicado para as mulheres que desejam engravidar. Por esse motivo, podem ser tratados como um tabu. No entanto, é importantíssimo falar sobre o assunto, pois ter a informação correta é uma forma de cuidado e compreensão com a própria saúde.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o aborto espontâneo é um fenômeno comum, afetando até 20% das gestações. Afinal, a gestação é um fenômeno complexo, o qual depende da interação entre fatores paternos, maternos e fetais.
Qualquer falha ou incompatibilidade nesses processos pode gerar a perda gestacional. No entanto, não precisa ficar ansiosa neste momento! Na maioria das situações, as mulheres engravidam novamente e ganham bebês bem saudáveis. Além disso, os métodos de saúde reprodutiva vêm melhorando cada vez mais os resultados.
Quer saber mais sobre o tema? Acompanhe!
O que são o aborto e o abortamento?
Na definição da Organização Mundial de Saúde, o aborto é a expulsão do feto quando:
Já o Manual de Pré-Natal de Alto Risco do Ministério da Saúde considera o limite de 22 semanas. Para além desses parâmetros, considera-se que houve óbito fetal prematuro (durante ou antes da 37ª semana) ou a termo (depois da 37ª).
A primeira diferenciação importante que precisamos fazer é: aborto e abortamento são dois conceitos relacionados, mas distintos. O primeiro é o resultado/evento, enquanto o último é o processo de abortar.
Aborto precoce x tardio
Outra característica importante para o diagnóstico correto da causa do abortamento é a idade gestacional em que ocorre:
Outras causas em qualquer período são a desnutrição materna, alguns tipos de endometriose e de miomas uterinos, a diabetes mellitus descontrolada, entre outras.
Espontâneo x provocado
Quanto à sua ocorrência, ele pode ser:
Ameaça de abortamento x abortamento inevitável
No primeiro caso, há sintomas condizentes com um abortamento, como:
No entanto, o feto e a gestação ainda permanecem viáveis. Para isso, o obstetra encontrará os seguintes sinais
Já o abortamento inevitável acontece quando não é possível reverter o quadro pela observação médica dos seguintes sinais:
Incompleto x completo
O abortamento completo ocorre quando o feto e os anexos embrionários (como o saco gestacional e a placenta) são completamente eliminados antes do diagnóstico. No incompleto, uma ou mais dessas estruturas se mantém na cavidade uterina.
Esporádico x de repetição
No aborto de repetição, a gestante apresenta uma história de vários abortos espontâneos consecutivos ou não. A Sociedade Americana de Saúde Reprodutiva considera que a história de dois abortos, consecutivos ou não, devem ser classificados nesta categoria.
Já a Sociedade Europeia, seguindo uma definição mais conservadora, estabelece que devem ocorrer 3 episódios consecutivos para o diagnóstico.
A depender das definições descritas acima, um ou dois abortos podem ser considerados esporádicos.
Quais as causas principais e fatores de risco de aborto?
Alterações cromossômicas e genéticas são a principal causa de aborto espontâneo, especialmente na 12ª semana. Elas impedem que o feto crie condições necessárias para a viabilidade dentro do útero.
Representam cerca de 50% a 70% das razões espontâneas até a 12ª semana. A frequência delas aumenta com a idade materna: entre 20 e 35 anos, é relativamente estável, não ultrapassando um risco de 20%.
Idade materna avançada
Após os 35 anos, além de uma maior ocorrência de falhas genéticas e cromossômicas, o organismo feminino passa por intensas modificações fisiológicas e anatômicas que reduzem sua capacidade de manter uma gestação.
Infecções
Infecções agudas graves podem ser causas de abortos esporádicos. As mais comuns são as infecções urinárias, a herpes genital e as doenças sexualmente transmissíveis.
Os micro-organismos e a inflamação local lesionam as estruturas de manutenção da gestação (decíduo, placenta, membranas ovulares) ou o próprio feto, promovendo a inviabilidade da gestação.
Doenças prévias e hábitos de vida
Tanto em abortos esporádicos quanto nos de repetição, um número crescente de estudos aponta para uma maior taxa de complicações na gestação em mulheres que foram diagnosticadas com endometriose.
Além dela, a diabetes mellitus tipo I, assim como alguns maus hábitos de vida (o tabagismo, o alcoolismo e alimentação inadequada), também podem ser causas possíveis.
O que fazer depois?
Depois que uma mulher passa por um aborto, ela deve cuidar de sua saúde física e mental. Para isso, nos dias e semanas após o abortamento, consultas periódicas com um especialista serão necessárias para evitar e tratar eventuais complicações, como:
Com o seguimento correto, previnem-se os riscos de sequelas, como a infertilidade, e as infecções generalizadas. Além disso, cada aborto — especialmente, o espontâneo — indica a possibilidade de insucesso das gestações futuras.
Portanto, a gestante deve fazer um planejamento da sua saúde reprodutiva com um ginecologista-obstetra, que a acompanhará ao longo dos anos para evitar novos abortamentos e outras doenças.
Quer saber mais sobre a endometriose, seus sintomas, suas complicações e tratamento? Não deixe de conferir o nosso post bem completo sobre o tema!