Dr. Luiz Flávio
Diferentes doenças uterinas que afetam as mulheres durante a fase reprodutiva, interferindo na fertilidade, têm o desenvolvimento motivado pela ação do estrogênio, um dos principais hormônios femininos. Entre elas estão a endometriose, os miomas uterinos e os pólipos endometriais.
Por esse motivo são definidas como ‘doenças estrogênio-dependentes’. Porém, da mesma forma que o hormônio atua no desenvolvimento, após a menopausa, evento marcado pela última menstruação quando os níveis do hormônio se tornam mais baixos, elas tendem, por outro lado, a regredir.
Algumas mulheres também podem experimentar a interrupção do desenvolvimento e/ou dos sintomas provocados por elas durante a gravidez, nesse caso, justificada pela alteração hormonal comum ao período.
Continue a leitura até o final e entenda qual a relação da endometriose com a nuliparidade e a gravidez.
Mensalmente, durante o ciclo menstrual o endométrio, camada interna do útero, se torna mais espesso para abrigar o embrião. É nessa camada que ocorre a implantação, processo no qual o embrião se fixa no endométrio.
O espessamento do endométrio, um tecido epitelial altamente vascularizado, é motivado pela ação dos hormônios femininos estrogênio e progesterona. Na etapa inicial do ciclo menstrual os níveis de estrogênio são mais altos para promover o espessamento, enquanto os de progesterona aumentam na última etapa garantindo o preparo final.
Quando não há fecundação esses níveis decrescem, o que resulta na descamação do endométrio e menstruação, iniciando um novo ciclo.
A endometriose é uma doença na qual um tecido semelhante ao endométrio cresce fora do útero, em locais próximos como o peritônio, os ovários, as tubas uterinas, a bexiga e o intestino, por exemplo.
Pode se apresentar em forma de implantes, aderências e endometriomas, um tipo de cisto ovariano frequente em mulheres com a doença em estágios mais avançados.
Embora todas as causas que provocam esse crescimento ainda não sejam conhecidas até os dias de atuais, algumas teorias surgiram para explicá-lo desde que a doença foi descrita pela primeira vez, anda no século XVIII.
A teoria da menstruação retrógada proposta pelo ginecologista norte-americano John Albertson Sampson em 1927 é uma delas.
Sampson justifica que os fragmentos do endométrio que deveriam ser normalmente eliminados pela menstruação podem retornar pelas tubas uterinas implantando em outras regiões.
Além disso, assim como o endométrio normal, o tecido ectópico reage à ação do estrogênio, tonando-se mais espesso durante o ciclo menstrual e sangrando na menstruação, ao mesmo tempo que o hormônio motiva o desenvolvimento dele.
Dor pélvica é um dos principais sintomas de endometriose. A dor pode manifestar como dismenorreia, aumento das cólicas menstruais antes e durante a menstruação, dispareunia, dor que ocorre durante a relação sexual, entre outras.
Também há um processo inflamatório associado que se torna mais grave à medida que a doença progride, aumentando, consequentemente a intensidade dos sintomas, incluindo infertilidade.
Alguns fatores podem, ainda, aumentar o risco de endometriose. A hereditariedade está entre eles – há alta incidência da doença em parentes de primeiro grau das mulheres portadoras –, da mesma forma que o risco é maior para as que menstruaram precocemente, que foram mães após os 30 anos, demoraram a entrar na menopausa e nunca tiveram filhos (nuliparidade).
Estudos sugerem que em mulheres nulíparas, como há um aumento do número de ciclos entre a menarca e a menopausa, a exposição aos níveis mais altos de estrogênio também é proporcionalmente maior, ao mesmo tempo, elas terão um maior número de menstruações, o que aumenta o risco de menstruação retrógada e, consequentemente, de endometriose.
As mulheres que já tiveram filhos, ao contrário, têm a menstruação interrompida durante o período gestacional e na amamentação, o que pode diminuir as chances de a doença desenvolver.
Ao mesmo tempo que não há menstruação durante a gravidez, o que naturalmente minimiza a ação do estrogênio no tecido ectópico, há um aumento dos níveis de progesterona: o folículo (bolsa que armazena o óvulo) rompe durante a ovulação liberando-o para a fecundação.
Quando o óvulo é fecundado, transforma-se em corpo lúteo, estrutura responsável por secretar progesterona, hormônio que atua com o estrogênio no preparo final do endométrio, cujos níveis se mantêm altos para garantir a manutenção da gravidez.
Uma versão sintética desse hormônio é utilizada há mais de 50 anos para controlar os sintomas provocados pela endometriose.
Assim, estudos especulam que a progesterona natural pode ter efeitos semelhantes em algumas mulheres com endometriose, suprimindo os sintomas durante o período gestacional.
No entanto, a endometriose é uma doença crônica, ou seja, não tem cura e a gravidez não a erradica: os sintomas geralmente reaparecem após o nascimento da criança.
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