Dr. Luiz Flávio
A endometriose é uma doença caracterizada pelo implante do endométrio (tecido que cobre a cavidade uterina) em outras regiões do corpo. Os locais mais acometidos são os ovários, a região retrocervical, as trompas e o peritônio. No entanto, em cerca de 2% dos casos, ocorre a endometriose do trato urinário, que pode atingir, principalmente, a bexiga e os ureteres.
Nessas localidades, tanto o diagnóstico quanto o tratamento podem ser muito distintos do protocolo mais habitual. Afinal, essa condição é complexa e pode provocar repercussões diversas, inclusive com o comprometimento dos rins. Por esse motivo, é muito importante discutir o tema. Acompanhe!
Como a endometriose se desenvolve?
A endometriose pode surgir por diferentes mecanismos. Entretanto a teoria mais aceita para grande parte dos casos é a do fluxo menstrual retrógrado, associado a falhas hormonais e imunológicas.
Em outras palavras, uma parte do conteúdo menstrual se direciona rumo às trompas, o ovário e a cavidade pélvica. Entretanto, esse processo ocorre em 90% das mulheres, então é preciso que haja também estímulos hormonais pelo estrógeno e uma falha do sistema imunológico.
Pela proximidade, as regiões mais frequentemente acometidas estão na pelve, que abriga os seguintes órgãos:
Em todos esses órgãos, os sintomas clássicos serão os mais comuns:
Relação da endometriose com sintomas urinários
A compreensão da endometriose do trato urinário exige uma revisão rápida da produção e excreção da urina:
Por ter uma relação muito próxima com o sistema reprodutor, o trato urinário pode ser acometido por esses implantes ectópicos. Dentre esses órgãos, a endometriose tem uma preferência pela bexiga: cerca de 85% das endometrioses do trato urinário. Os ureteres representam outros 15%, sendo o acometimento da uretra muito mais raro.
Com isso, além dos sintomas clássicos da endometriose, surgem as queixas urinárias, como:
Diagnóstico e tratamento
Por representar menos de 2% dos casos de endometriose, o diagnóstico pode demorar a ser feito. Afinal, diante de queixas urinárias, os médicos podem focar inicialmente em causas mais comuns, como infecções, bexiga hiperativa e síndrome uretral crônica.
Investigação inicial
Seu médico deve estar atento para a relação das queixas urinárias com algum daqueles três sintomas típicos da endometriose (dor pélvica crônica, dismenorreia e infertilidade).
Para uma boa investigação inicial, dois exames iniciais simples são essenciais: a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal, associada a ultrassonografia pélvica tradicional.
Além de identificar várias condições de obstrução urinária, apresenta boa sensibilidade para a localização de implantes endometriais profundos (mais de 5 milímetros de invasão).
Investigação específica
Caso não sejam encontrados implantes endometriais, mas haja evidências de obstrução nas vias urinárias, pode ser requisitada a uroressonância.
O tratamento da endometriose do trato urinário
Diante de uma suspeita forte de endometriose no trato urinário pelos exames de imagem e pelos sintomas, a conduta posterior depende do órgão acometido:
Portanto, a endometriose do trato urinário apresenta especificidades muito importantes para o diagnóstico e o tratamento. Por ser mais difícil de identificar, o diagnóstico frequentemente demanda métodos mais invasivos. Além disso, o tratamento clínico é pouco resolutivo, sendo, muitas vezes, necessária a retirada cirúrgica, pela cirurgia minimamente invasiva laparoscópica.
Quer conhecer melhor as características, o diagnóstico e o tratamento da endometriose? Não deixe de conferir este post bem completo sobre o tema!