Dr. Luiz Flávio
Reserva ovariana é um daqueles conceitos que a maioria das mulheres já ouviu falar em algum momento da vida. Você pode ter se deparado com ele ao ouvir uma amiga conversar sobre a avaliação da fertilidade, nas consultas preconcepcionais, nas suas pesquisas sobre alguma doença, como a endometriose, entre vários outros contextos. Você entende o que ela significa?
Os ovários são órgãos que armazenam os folículos ovarianos, uma estrutura que contém um óvulo (gameta feminino). A quantidade de folículos é, em grande parte, determinada antes mesmo do nascimento. Naturalmente, ao longo de toda a sua vida, a mulher perde essa reserva de folículos até que ela se esgota alguns anos após a menopausa.
Quer entender melhor como avaliar a reserva ovariana? Acompanhe o nosso post!
O que é reserva ovariana?
A reserva ovariana é a quantidade de folículos viáveis que a mulher apresenta dentro dos seus ovários em determinado momento. Esse é um parâmetro utilizado para determinar a fertilidade de uma mulher, visto que uma baixa quantidade de folículos dificulta diversas etapas do processo reprodutivo feminino.
Ao contrário do homem que produz espermatozoides (gametas masculinos) por toda a vida fértil, a quantidade de células reprodutivas femininas é determinada ainda durante o desenvolvimento da mulher dentro do útero.
Após a puberdade, elas são liberadas progressivamente até que, por volta da quarta e da quinta década de vida, a quantidade é insignificante para a fertilidade. Com isso, ocorre o fim da vida fértil da mulher.
Os folículos não são apenas responsáveis pelo armazenamento dos óvulos, eles também apresentam uma importante função hormonal, produzindo estrogênio, progesterona e outros hormônios sexuais. Com isso, essas substâncias regulam etapas importantes do ciclo fértil de uma paciente, como o crescimento do endométrio e os mecanismos de ovulação.
A principal causa geral de redução da reserva ovariana é o envelhecimento natural. No entanto, algumas doenças e seus tratamentos podem causar uma redução significativa da reserva ovariana prematuramente. Uma delas é a endometriose, que atinge cerca de 10% a 15% das mulheres, sendo responsável por 30% a 50% dos casos de infertilidade feminina.
Como avaliar a reserva ovariana?
A reserva ovariana pode ser avaliada de diferentes formas, mas os dois métodos mais tradicionais são:
A dosagem de outros hormônios pode auxiliar na descoberta da causa da redução da reserva ovariana, mas serão requisitados de acordo com a suspeita clínica do seu médico.
Contagem dos folículos antrais
Esse exame é realizado entre o terceiro e o quinto dia de fluxo menstrual da paciente, quando a ação do hormônio folículo estimulante já foi suficiente para recrutar alguns folículos para amadurecer. Então, o ultrassonografista vai visualizar os ovários a fim de contar aqueles folículos cujo tamanho é superior a 2 ou 4 milímetros (dependendo do protocolo utilizado).
Uma quantidade de folículos é uma forma de estimar a reserva ovariana total. Se ela for baixa (<8, dependendo da diretriz), isso é um indicativo de uma reserva ovariana reduzida. Se o número de folículos antrais for muito grande (> 12 a 16), isso sugere uma reserva ovariana alta, que pode ou não estar relacionada à fertilidade.
Pelo contrário, pode se tratar de alguma doença que aumenta bastante o recrutamento de folículos, como a síndrome dos ovários policísticos, que está associada à infertilidade. Por isso, é fundamental contextualizar.
Dosagem do hormônio antimülleriano
Outra forma de estimar a reserva ovariana é a dosagem dos níveis sanguíneos de um hormônio produzido pelos folículos maduros, o hormônio antimülleriano. Geralmente, níveis abaixo de 1,5 significam uma redução significativa da quantidade de folículos viáveis. Por sua vez, números muito elevados podem estar relacionados a doenças.
Os dois exames podem ser requisitados em conjunto para obter uma precisão no diagnóstico da saúde reprodutiva. Em todo o caso, o médico analisa criteriosamente os exames com as características do quadro clínico da paciente. Isso permite que o diagnóstico e o tratamento sejam individualizados.
Por que isso é importante, inclusive no contexto da endometriose?
Na endometriose, a avaliação da reserva ovariana é importantíssima para a paciente, pois auxilia na tomada de decisão sobre os passos do plano terapêutico.
O estado inflamatório causado pela endometriose pode reduzir a reserva ovariana, levando à queixa de infertilidade. Para a compreensão dos fatores que comprometem a fertilidade das pacientes acometidas pela doença, realiza-se a avaliação da reserva ovariana.
A avaliação da reserva ovariana é importante para a individualização do tratamento da infertilidade. Alguns métodos, como as relações sexuais programadas e a inseminação artificial, não são recomendáveis diante de uma reserva ovariana baixa. Nesses casos, a fertilização in vitro seria uma opção com maior impacto sobre o prognóstico reprodutivo.
Se a paciente apresenta uma reserva ovariana baixa antes da realização da cirurgia para retirada das lesões (principalmente, os endometriomas), o médico pode recomendar a preservação da fertilidade pelo armazenamento de óvulos.
Os riscos são menores quando a cirurgia é feita com técnicas minimamente invasivas, como a laparoscopia. Entretanto, mesmo nesses casos, a reprodução assistida é um zelo importante para as pacientes que sonham em engravidar.
Por esses motivos, a estimativa da reserva ovariana é um exame muito utilizado na avaliação das pacientes com endometriose e desejo de engravidar. Assim, podemos individualizar o tratamento e aumentar as chances de que a mulher obtenha os resultados que tanto deseja.
Quer saber mais sobre os endometriomas e a sua relação com a infertilidade? Confira nosso artigo institucional sobre o tema!