Dr. Luiz Flávio
Todos os meses, durante o ciclo menstrual o endométrio é preparado para receber o embrião: motivado pela ação do estrogênio e da progesterona, se torna mais espesso, proporcionando, assim, a fixação do óvulo fecundado, processo chamado nidação ou implantação, que marca o início do desenvolvimento gestacional.
Endométrio é a camada interna do útero, formada por tecido epitelial altamente vascularizado. Quando não há fecundação, os níveis hormonais diminuem provocando a sua descamação e a menstruação, iniciando um novo ciclo.
A endometriose é uma doença inflamatória e crônica, que tem como principal característica o crescimento de um tecido semelhante ao endométrio fora do útero, geralmente em locais próximos como peritônio, tubas uterinas e ovários, quando se apresenta em forma de endometriomas, um tipo de cisto ovariano preenchido por líquido marrom, conhecido popularmente como ‘cisto de chocolate’.
Eles podem interferir na saúde reprodutiva de diversas formas, ao mesmo tempo que provocam a manifestação de sintomas de maior intensidade, impactando a qualidade de vida das mulheres, como cólicas severas e dor durante a relação sexual (dispareunia).
Para entender como os endometriomas interferem na fertilidade e qual a relação com a reserva ovariana, continue a leitura deste texto até o final.
As mulheres, ao contrário dos homens que produzem espermatozoides durante toda a vida, já nascem com uma quantidade de folículos, pequeníssimas bolsas que armazenam o óvulo imaturo.
Na puberdade, quando acontece a primeira menstruação (menarca), que marca o início da fase fértil feminina, essa quantidade diminui e se torna menor a cada ciclo menstrual: todos os meses vários folículos crescem, mas apenas um deles se torna dominante, desenvolve, amadure e rompe liberando o óvulo para ser fecundado pelo espermatozoide. Os folículos que cresceram e não desenvolveram passam por um processo de atrofia.
Reserva ovariana é o termo que descreve a quantidade de folículos presentes nos ovários e funciona como espécie de marcador da fertilidade feminina.
Os níveis da reserva ovariana naturalmente diminuem com o envelhecimento, até a falência da função dos ovários, o que ocorre na menopausa, fase que se inicia a partir da última menstruação.
No entanto, algumas condições que afetam os ovários também podem provocar alterações, comprometendo, da mesma forma, a capacidade reprodutiva de mulheres durante a fase fértil, como, por exemplo, os endometriomas.
Endometriomas possuem diversos tamanhos, que variam de poucos milímetros a vários centímetros e desenvolvem em um ou nos dois ovários, estando presente em pelo menos 40% das mulheres com endometriose em estágios mais avançados.
Entre os efeitos que eles podem provocar estão:
Quando estão presentes nos dois ovários afetam ainda mais a reserva ovariana. Por isso, é importante procurar um especialista em endometriose diante da manifestação de qualquer sintoma que possa indicar a problema. Os sintomas mais comumente manifestados por endometriomas são:
Se os endometriomas romperem durante o ciclo menstrual, o que apesar de raro pode acontecer, ocorre uma dor abdominal repentina, aguda e pulsante, geralmente no lado em que ele estava localizado. Nesse caso, procure auxílio médico com urgência.
O principal exame realizado para confirmar a suspeita de endometriomas é ultrassonografia transvaginal com protocolo especial, que possui alta sensibilidade para detectá-los determinando, inclusive, critérios como quantidade, e tamanho.
O tratamento é definido a partir dos resultados diagnósticos, individualizado de acordo com as necessidades de cada paciente. Porém, se a mulher deseja engravidar, a cirurgia pode ser considerada, embora qualquer intervenção cirúrgica nos ovários possa causar danos permanentes à fertilidade feminina.
A cirurgia tem como objetivo a remoção da cápsula dos endometriomas. É realizada por uma técnica minimamente invasiva chamada laparoscopia. O laparoscópio possui uma câmera incorporada possibilitando a transmissão em tempo real para um monitor e o acompanhamento pelo especialista.
Embora o procedimento seja considerado seguro e provoque danos praticamente inexpressivos aos órgãos operados, particularmente, na remoção de endometriomas, há o risco de afetar a reserva ovariana.
Os tecidos em torno deles, que contém folículos ovarianos, podem ser danificados ou removidos, causando, assim, a diminuição da fertilidade ou infertilidade permanente, principalmente se os endometriomas estiverem presentes nos dois ovários.
Para garantir o sucesso da cirurgia é fundamental procurar um especialista em endometriose, com experiência na remoção de endometriomas. Dessa forma, as chances de sucesso aumentam bastante: quando a cirurgia é bem-sucedida e não afeta a fertilidade, a mulher consegue engravidar normalmente após o procedimento.
Além disso, uma ação importante pode ser a preservação da fertilidade, processo que prevê o congelamento dos óvulos antes da cirurgia, aumentando as chances de gravidez no futuro.
Siga o link e saiba quais outros impactos a endometriose pode causar para a fertilidade feminina.