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Endometrioma tem cura?

Endometrioma tem cura?

Dr. Luiz Flávio

A endometriose é uma doença que afeta cerca de 15% das mulheres. Ela é classificada em três tipos diferentes, de acordo com sua gravidade e o local atingido. Uma de suas manifestações acomete os ovários e recebe o nome de endometrioma ovariano. Esse tipo de lesão é um dos mais frequentes, ocorrendo em até 55% das pacientes portadoras de endometriose.

Outros locais que podem ser afetados pela doença são os demais órgãos que compõem o sistema reprodutor feminino — ovários e tubas uterinas — além de algumas outras regiões da cavidade abdominal e pélvica, como a bexiga e os intestinos. O tratamento mais indicado depende do diagnóstico e dos órgãos afetados.

Neste texto, abordarei o que é endometrioma e se é possível obter a cura da doença. Ao longo do conteúdo, também serão apresentadas outras informações relevantes sobre o tema, como sintomas, exames diagnósticos, formas de tratamento, além dos prós e contras da intervenção cirúrgica.

O que é endometriose?

A endometriose é uma doença inflamatória crônica, caracterizada pelo alojamento de células endometriais em locais extrauterinos. Vale lembrar que o endométrio é o tecido que reveste a parede do útero e tem como uma de suas funções propiciar a implantação do embrião, dando início à gravidez.

Para que essa implantação ocorra, uma das características do tecido endometrial é o aumento de espessura, que ocorre ao receber estímulos dos hormônios produzidos nos ovários (estrogênio e progesterona).

No entanto, há casos nos quais esse tecido se desenvolve fora do útero, podendo ser encontrado do lado externo do órgão ou em outras partes da área pélvica. As estruturas mais comumente afetadas são o peritônio, os ovários, as tubas uterinas e os ligamentos que sustentam o útero.

Ainda é possível localizar implantes de células endometriais na bexiga, nos ureteres, na vagina, no septo retovaginal e no intestino. Raramente, o tecido também é encontrado nos pulmões e no pericárdio.

O tecido endometrial fora do útero, ou ectópico, também sofre influência hormonal, alterando suas características de acordo com a fase do ciclo menstrual. Assim como a camada intrauterina responde às ações hormonais e ocasiona o sangramento nos dias de menstruação, as células ectópicas também o fazem, resultando em um processo inflamatório nos órgãos atingidos.

O que são endometriomas?

Dá-se o nome de endometrioma à presença do tecido endometrial nos ovários, caracterizada pela formação de cistos nessa região. Os cistos endometrióticos são “bolsas” que contêm um líquido de aspecto achocolatado em seu interior. O conteúdo dos endometriomas é, em geral, espesso e escuro pois contêm sangue degradado em seu interior.

Essas bolsas se formam em pacientes com endometriose devido ao acúmulo de sangue menstrual de diferentes ciclos, a partir de focos de endometriose encontrados na intimidade do tecido ovariano.

A presença dos implantes endometriais nos ovários leva a alterações de tamanhos variados, de forma unilateral ou bilateral, que podem prejudicar o correto funcionamento desses órgãos.

Lembrando que os ovários têm duas principais funções:

  1. armazenar e desenvolver os óvulos, que ficam contidos em unidades chamadas de folículos ovarianos e passam por processo de maturação para serem liberados na ovulação;
  2. produzir os hormônios sexuais progesterona e estrogênio, os quais participam do ciclo menstrual, além de serem fundamentais para a manutenção inicial da gravidez.

Quais são os sintomas da endometriose ovariana?

Ao alojar-se nos ovários, o tecido endometrial prejudica o funcionamento desses órgãos, podendo causar interferências no ciclo menstrual e prejudicar a reserva ovariana. Dessa forma, a doença pode levar a uma dificuldade de engravidar, ou seja, infertilidade.

Nesse sentido, é importante esclarecer que, a cada ciclo menstrual, diversos folículos são recrutados para se desenvolverem e chegarem ao estágio ideal para liberar o óvulo. Contudo, normalmente apenas um deles alcança a maturação final necessária, sendo chamado de folículo dominante. Os demais entram em degradação.

Como esse processo se repete mês a mês, ao longo da vida fértil da mulher, a tendência natural é que o número de óvulos diminua progressivamente. No entanto, doenças como os endometriomas podem reduzir ainda mais a reserva ovariana e impedir os planos de gravidez.

Diferentemente do que geralmente se pensa, apesar dos severos impactos na fertilidade, o endometrioma não é responsável por sintomas muito exuberantes. Na verdade, em boa parte dos casos, a doença se desenvolve com caráter assintomático.

Entretanto, quando se verificam dores intensas associadas à presença dos cistos nos ovários, o quadro deve ser considerado um marcador da doença em outros locais. Ou seja, caso um ultrassom tenha sido realizado, o endometrioma tenha sido suspeitado e a paciente apresente quadro de dores graves, seu médico deve levantar a suspeita de endometriose associada em outros órgãos.

Quais exames são necessários para o diagnóstico?

O diagnóstico do endometrioma ovariano pode ser sugerido por meio das queixas realizadas pela paciente, durante a consulta médica de rotina. Com o exame físico, a identificação de massas císticas nas regiões anexiais podem sugestionar a presença de endometriose ovariana.

A depender de sua suspeita, associando dados da história clínica e do exame físico, o médico pode solicitar que seja realizada uma ultrassonografia especializada, a fim de analisar a cavidade pélvica e investigar se há focos de endometriose.

Caso a ultrassonografia confirme a hipótese diagnóstica, pode ser indicada a videolaparoscopia, que permite uma análise mais detalhada da pelve. Dessa forma, é possível verificar as regiões atingidas, o tamanho dos cistos, realizar o mapeamento da doença e promover o seu tratamento no mesmo momento.

É importante que mulheres durante sua vida reprodutiva façam o acompanhamento médico periódico que pode auxiliar na detecção de doenças em sua fase inicial, tornando o tratamento mais eficiente.

Como é feito o tratamento?

O tratamento do endometrioma ovariano depende de seu diagnóstico clínico e da gravidade da doença. As opções incluem a conduta expectante, a administração de medicamentos terapêuticos para seu controle ou abordagem cirúrgica.

A conduta expectante representa a ausência de intervenção e se limita ao acompanhamento clínico periódico, com o intuito de prevenir a evolução do quadro.

O controle com medicamentos terapêuticos tem como objetivo controlar os sintomas e o desenvolvimento e a evolução da doença. Nesses casos, são prescritos fármacos hormonais que ajudam a estabilizar a ação estrogênica e progestagênica para favorecer a função ovariana.

A abordagem cirúrgica é recomendada para casos nos quais os ovários foram muito afetados, prejudicando a fertilidade da paciente. A cirurgia pode ter o objetivo de eliminar os focos endometrióticos, devolvendo aos ovários a possibilidade de funcionarem corretamente.

Caso a mulher manifeste o desejo de engravidar, devem ser realizados exames que visem analisar sua fertilidade para indicação do melhor tratamento. Deve principalmente ser considerada a reserva ovariana prévia à indicação cirúrgica, uma vez que o procedimento operatório pode reduzi-la.

Quais são os prós e contras do tratamento cirúrgico?

A indicação cirúrgica precisa ser muito bem avaliada, partindo de critérios como a quantidade, a bilateralidade e o tamanho dos endometriomas, as alterações funcionais dos órgãos e o impacto da endometriose na qualidade de vida da mulher — levando em conta, ainda, a associação com outros focos da doença.

Acima das questões já levantadas, a intenção de gravidez da paciente é um fator de extrema relevância a ser analisado. Diante disso, médico e paciente avaliam, em conjunto, os objetivos da mulher e suas alternativas de tratamento.

Se a paciente já tem prole constituída e não tem mais planos de reprodução, é possível trabalhar com um leque maior de abordagens cirúrgicas. Claro que a gravidade das lesões também é devidamente avaliada para confirmar a necessidade de operação.

Portanto, mulheres que não têm o intuito de gestar podem ser tratadas com a videolaparoscopia para remoção dos cistos ou, em casos severos, por meio da ooforectomia — também feita comumente por via laparoscópica, técnica de cirurgia minimamente invasiva.

As principais vantagens da cirurgia de endometriose ovariana são: a redução dos sintomas (quando existentes) e o restabelecimento da qualidade de vida da mulher.

Já nos casos em que a paciente deseja uma gestação futura, a cirurgia representa prós e contras. De um lado, a operação é importante para restaurar a anatomia ovariana e regularizar suas funções — tendo em vista que os hormônios sexuais produzidos pelos ovários são essenciais no início da gravidez. Na outra ponta, existe o risco real de a reserva ovariana ser prejudicada pelo procedimento cirúrgico.

Os riscos da operação estão relacionados a possíveis lesões acidentais na porção cortical dos ovários durante o procedimento, que é exatamente onde estão localizados os óvulos ainda imaturos. Sendo assim, a cirurgia deve ser muito cuidadosa para não haver efeitos negativos na reserva ovariana, o que torna fundamental a atuação de profissionais experientes e bem preparados.

Uma alternativa interessante para mulheres que desejam engravidar, mas ainda vão passar pela cirurgia de tratamento do endometrioma, é a reprodução assistida — que, inclusive, dispõe de técnicas específicas para congelar os óvulos antes do procedimento, a fim de garantir a preservação da fertilidade feminina.

Endometrioma tem cura definitiva ou ocorrem recidivas?

A endometriose é, em todas as suas manifestações, considerada uma doença crônica. Isso significa que há opções de tratamento que visam eliminar os focos da doença e minimizar seus sintomas e, na maioria dos casos, não há recidivas. No entanto, isso pode acontecer, principalmente no caso de endometriomas, que apresentam comportamento diferente quando comparado com as endometrioses peritoneais (superficiais) e profundas.

Por afetar os ovários e a reserva ovariana, a cirurgia requer uma extensa experiência e técnica do cirurgião para não prejudicar a fertilidade feminina, como vimos acima. Portanto, considerando o fato de o endometrioma ser a forma com maior índice de recidiva, dentre as manifestações da endometriose, é aconselhável que a paciente mantenha um acompanhamento regular para monitorar seu quadro.

Saiba mais sobre a endometriose em nosso conteúdo institucional.

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