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Endometriose e aborto: existe relação?

Endometriose e aborto: existe relação?

Dr. Luiz Flávio

O abortamento espontâneo é uma condição complexa e que pode estar associada a diversos fatores, um deles é a endometriose. O problema é mais comum do que parece — ocorre em cerca de 20% das gestações — e pode acarretar sentimentos de perda, culpa, frustração, além do risco de complicações para o sistema reprodutivo da mulher.

O quadro de abortamento é compreendido como a interrupção da gravidez, podendo ser precoce (no primeiro trimestre gestacional) ou tardio (até a metade do segundo trimestre) — a partir da 20º semana de gestação, a perda não é mais considerada aborto, e sim óbito fetal.

Nos casos de endometriose e outras doenças ginecológicas, a perda gestacional pode acontecer com maior frequência. A investigação diagnóstica é fundamental para descobrir a causa do problema e chegar ao tratamento necessário.

A endometriose e suas características

A endometriose é caracterizada pela presença de células do revestimento uterino interno (endométrio) em outros órgãos da cavidade pélvica. Com mais frequência, esses implantes de tecido endometrial se infiltram nos ovários, tubas uterinas, peritônio, bexiga, intestino e outras estruturas da pelve.

A cada ciclo menstrual, o endométrio modifica suas características e se torna mais espesso para receber um embrião. Porém, quando nenhum óvulo é fecundado, o tecido se desfaz e é eliminado como menstruação. Da mesma forma, estimulados pela ação hormonal, os focos de endometriose localizados nos outros órgãos sangram e ocasionam uma reação inflamatória.

Os sintomas da doença podem ser intensos a ponto de limitar a capacidade funcional da mulher durante o período menstrual. Conforme o tipo de endometriose, os sintomas incluem:

  • dismenorreia — cólicas menstruais antes e durante os dias de menstruação;
  • dor pélvica crônica;
  • dispareunia — dor durante a relação sexual;
  • alterações urinárias e intestinais (quando a bexiga e o intestino são acometidos);
  • infertilidade.

Além dos sintomas mais comuns, a endometriose também é apontada como causa de infertilidade e abortamento, bem como de outras complicações obstétricas, incluindo: gravidez fora do útero (conhecida como ectópica); placenta prévia; hemorragia pré e pós-parto; prematuridade.

Os riscos da endometriose e sua relação com o aborto

A endometriose é uma condição complexa e que pode provocar uma série de consequências, como o aborto. O processo inflamatório desencadeado pela doença tende a causar a formação de aderências (tecido cicatricial) que progridem sobre os órgãos afetados, podendo modificar sua estrutura e função — nos casos mais graves, com grandes distorções anatômicas.

Para que a gravidez aconteça e evolua, os órgãos do sistema reprodutor feminino precisam estar em bom funcionamento: 

  • os ovários produzem os hormônios sexuais femininos e atuam tanto na regulação do ciclo menstrual quanto na manutenção inicial da gravidez, mas podem ser prejudicados pelos endometriomas (cistos resultantes de endometriose ovariana);
  • as tubas uterinas conduzem os gametas até o útero e precisam estar desobstruídas, portanto livres de aderências;
  • o útero, que tem a função de acolher e proteger o bebê durante toda a gestação, necessita de um ambiente adequado para isso, sem sinais de inflamação.

Visto assim, percebe-se que a endometriose acarreta mudanças estruturais e funcionais nos órgãos reprodutores, o que pode impedir a fecundação e dificultar o desenvolvimento da gravidez. Nos casos de aborto, o ambiente uterino se encontra inadequado devido à presença das citocinas inflamatórias. 

A endometriose também contribui para a alteração do miométrio — camada muscular que ocupa a parte intermediária do útero —, aumentando o risco de abortamentos, problemas placentários e parto prematuro. 

As formas de tratar a endometriose

Evitar o aborto nos casos de endometriose nem sempre é possível. Isso porque — apesar da dor intensa ser um dos principais sintomas — algumas mulheres são assintomáticas e nem desconfiam de que são portadoras da doença. 

Pacientes com sintomas leves e moderados também demoram a diagnosticar o seu quadro, visto que as dores no período menstrual são encaradas como um incômodo comum nessa fase do ciclo. 

Entretanto, mesmo que a endometriose se enquadre no nível leve, seus efeitos sobre o sistema reprodutor podem ser adversos. 

Após tomar conhecimento de sua condição clínica, a mulher deve realizar o acompanhamento com um especialista e estudar suas possibilidades de tratamento. As principais formas de tratar a endometriose incluem intervenção medicamentosa e cirúrgica.

Os principais objetivos do tratamento são aliviar os sintomas, limitar a progressão da doença e restaurar a qualidade de vida da mulher, o que inclui o fato de conseguir uma gestação sem complicações. 

Primeiramente, a paciente pode tentar o controle da endometriose com medicações hormonais, dependendo da gravidade do quadro, bem como do desejo de não engravidar no momento. 

Contraceptivos orais e dispositivos intrauterinos (DIU Mirena) à base de progesterona sintética são indicados para o controle do ciclo menstrual, uma vez que reduzem a ação ovariana e inibem a dinâmica endometrial. Contudo, essa intervenção não elimina as lesões, apenas faz com que fiquem menos ativas.

Quando o controle medicamentoso não surte o efeito esperado, não controlando os sintomas, o tratamento cirúrgico passa a ser a melhor opção. A excisão das lesões é feita por cirurgia minimamente invasiva (robótica ou por videolaparoscopia), com altos índices de eficácia e baixo índice de recidivas.

Assim, com o tratamento adequado da endometriose, a mulher pode recuperar seu bem-estar físico e emocional, além de planejar uma gestação com mais segurança e menores riscos.

Precisa de mais informações? Acompanhe também o nosso texto principal sobre endometriose!

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