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Endometriose e fluxo menstrual

Endometriose e fluxo menstrual

Dr. Luiz Flávio

No consultório ginecológico, muitas mulheres nos perguntam se há relação da endometriose com o fluxo menstrual. Afinal, as alterações na frequência e na quantidade da menstruação são muito comuns em doenças ginecológicas. Por exemplo, na síndrome dos ovários policísticos, pode haver aumento do volume, mas com intervalos maiores sem menstruação.

No entanto, na endometriose não há alterações significativas no fluxo menstrual. Então, a presença desse sintoma geralmente é associada a outras condições, que podem ser simultâneas.

Apesar disso, a endometriose está associada ao fluxo menstrual de uma outra forma, na sua origem. Como veremos no post, o fluxo retrógrado da menstruação pode estar associado com a formação de implantes. Quer entender melhor? Acompanhe!

O que é endometriose e qual a sua relação com o fluxo menstrual?

Antes de tudo, precisamos entender como funciona a menstruação, que está relacionada ao ciclo fértil da mulher. Este tem como objetivo:

  • A ovulação, liberação de um óvulo para que ele seja fecundado por um espermatozoide;
  • A preparação do útero para a recepção do embrião. 

Para que o feto consiga se instalar no útero, é preciso que o ambiente esteja favorável para que ele possa sobreviver. Assim, antes da ovulação, acontece uma fase de crescimento acelerado do endométrio, que auxiliará na nutrição e na fixação do embrião. 

O estímulo para a multiplicação das células do endométrio é feito pelo estradiol (estrogênio muito ativo). Após a ovulação, os níveis de estradiol caem e os de outro hormônio, a progesterona, sobem para que esse endométrio mais desenvolvido amadureça. Porém, se não houver implante de um embrião em alguns dias, a concentração de progesterona também cai.

Então, as células mais superficiais do endométrio são programadas para morrer. Ao mesmo tempo, o sistema imunológico causa uma inflamação intensa para que essa camada descame e a mulher menstrue. O fluxo normal é a liberação pelo canal vaginal.

O fluxo retrógrado

Mesmo assim, 90% das mulheres ocasionalmente apresentam um fluxo retrógrado, em que o conteúdo menstrual se direciona para as trompas uterinas e para ovário. Na grande maioria das vezes, esse tecido é eliminado sem provocar nenhuma repercussão para a saúde da mulher.

No entanto, algumas mulheres apresentam um endométrio com modificações genéticas que aumentam sua capacidade de sobreviver fora da cavidade uterina. Essas células são capazes de produzir mais hormônios femininos e de escapar da vigilância do sistema imunológico. Assim, surge a endometriose.

Por que a endometriose não altera o ciclo menstrual?

Para que o fluxo menstrual seja alterado, é preciso que haja uma mudança significativa na quantidade de hormônios femininos na circulação sanguínea. 

Apesar de os implantes de endometriose conseguirem produzir estrogênio e resistir à ação da progesterona, as alterações são apenas locais. Ou seja, não é produzida uma quantidade de hormônio suficiente para alterar os ciclos do endométrio normal da cavidade uterina. 

O que alterações no fluxo menstrual podem indicar?

A alteração de fluxo mais comum é o atraso menstrual, que é normal na maioria das mulheres. Por isso, não se assuste caso a menstruação se atrase alguns dias ocasionalmente. Contudo, se ele durar mais do que 7 dias, é preciso investigar uma potencial gestação em mulheres férteis.

Apesar de não ser mais tanto utilizado na ginecologia atualmente, você pode encontrar os seguintes termos para descrever alterações no fluxo menstrual. 

  • Hipermenorreia: é o sangramento prolongado (acima de 8 dias) e/ou quantidade excessiva (maior que 80ml). Condições a que pode estar associada: miomas, pólipos e adenomiose;
  • Hipomenorreia: fluxo de duração menor que 3 dias e/ou em quantidade inferior a 30ml. Condições a que pode estar associada: estresse, distúrbios hormonais e envelhecimento;
  • Polimenorreia: ciclo com frequência inferior a 24 dias. Condições a que pode estar associada: hipertireoidismo e distúrbios neuroendócrinos;
  • Oligomenorreia: ciclos que ocorrem a intervalos acima de 35 dias. Está associado principalmente à SOP e outras condições anovulatórias;
  • Metrorragia: sangramento uterino fora do período menstrual;
  • Menometrorragia: o sangramento alterado durante o período menstrual, que persiste fora dele. Tanto a metrorragia quanto a menometrorragia estão comumente ligadas a pólipos uterinos, miomas e a SOP. 

Além disso, as alterações no fluxo menstrual podem predispor a doenças. Por exemplo, ciclos mais curtos e intensos parecem estar associados a um aumento de risco de desenvolvimento da endometriose.

Quando procurar um médico?

No entanto, há algumas alterações em que você pode procurar o seu ginecologista fora das consultas de rotina:

  • O sangramento uterino anormal persistente, ocorrendo em mais de um ciclo menstrual durante um ano;
  • Volume de sangue muito grande em um único período;
  • Suspeita de infertilidade;
  • Perda de peso significativa;
  • Desânimo, cansaço progressivo durante esforços físicos e fadiga.

O controle dependerá da condição que provoca as alterações, pois o tratamento adequado da doença de base melhora o fluxo menstrual. Em condições que promovam um aumento do sangramento, pode ser necessário acompanhar o desenvolvimento de anemia com exames de sangue (hemograma) periódicos.

Portanto, apesar de suas alterações não serem um sintoma da endometriose, o fluxo menstrual anormal deve ser investigado com atenção. A ginecologia é uma especialidade médica muito focada na promoção da saúde e na prevenção de doenças. 

Por isso, é importante se consultar rotineiramente mesmo que não tenha nenhuma queixa. Assim, o profissional poderá fazer uma avaliação bem completa para identificar manifestações que podem não ter chamado a atenção da mulher.

Está interessada em mais informações sobre a endometriose e seu diagnóstico? Então, não deixe de conferir este post!

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