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Endometriose e hormônios: qual a relação?

Endometriose e hormônios: qual a relação?

Dr. Luiz Flávio

A endometriose, como falamos frequentemente aqui no blog, é uma doença muito comum nas mulheres, — sendo diagnosticada em 10% a 15% das pacientes ao longo da vida. Ela está associada principalmente aos seguintes sintomas:

  • dor pélvica crônica, a qual deve ocorrer também fora do período menstrual;
  • infertilidade – não conseguir engravidar após 12 meses de tentativas;
  • dismenorreia, dores intensas durante o período menstrual;
  • dor na relação sexual;
  • alterações urinárias e intestinais cíclicas.

Outra característica muito interessante é a maior frequência em mulheres na menacme, o período reprodutível da mulher. Após a menopausa, muitas mulheres acometidas com a endometriose relatam uma melhora significativa dos sintomas de dor. Tudo isso indica que a doença está relacionada aos hormônios femininos, especialmente o estrogênio. Quer entender melhor? Acompanhe!

A endometriose ao longo da vida da mulher

O estrogênio é uma classe de hormônios composta por vários tipos diferentes, que variam de acordo com a potência de ação e prevalecem em alguma fase da vida da mulher.

Estradiol

É a forma mais potente de estrogênio e apresenta papel importantíssimo na saúde reprodutiva. Na infância, todos os tipos de estrogênio estão em níveis muito baixos. Por esse motivo, a endometriose é muito rara em crianças.

No entanto, perto da menarca, — primeira menstruação —, o estradiol (o tipo de estrógeno mais potente) passa a ser produzido em grande quantidade, estimulando o crescimento dos caracteres femininos, como seios e útero.

Na menacme, sua função principal é o preparo do corpo para a fecundação por meio das seguintes ações:

  • promove o crescimento uterino;
  • aumenta a lubrificação vaginal;
  • auxilia no estímulo sexual;
  • prepara a cavidade endometrial.

Uma de suas ações mais marcantes é o estímulo do crescimento da camada de células que recobre a cavidade uterina, o endométrio. Ela é essencial para que o embrião se implante adequadamente. Sem o estradiol, essa camada apresenta apenas 2 a 3 milímetros. Com o aumento da produção desse hormônio no período fértil, a camada passa a ter mais de 10 milímetros.

Estrona

Após a menopausa, os níveis de estradiol caem drasticamente, mas o corpo continua liberando um outro tipo de estrógeno, — a estrona —, a qual auxilia em outras funções, como o estímulo à manutenção óssea e à vascularização da pele. Porém ela é muito menos potente do que o estradiol. Por isso, as mulheres com endometriose relatam uma redução significativa dos sintomas de dor após pararem de menstruar definitivamente.

Relação da endometriose com os hormônios

As explicações mais atualizadas sobre a origem e as causas da endometriose envolvem quatro fatores principais:

  • predisposição genética;
  • dependência do estrogênio;
  • resistência à progesterona;
  • inflamação.

Na maioria das situações, a endometriose se desenvolve da seguinte forma: durante a menstruação, pode ocorrer o fluxo retrógrado do conteúdo. Ou seja, além ser eliminado pela vagina, ele reflui pelas tubas, seguindo para os ovários e a cavidade abdominal.

Em situações normais, o sistema imunológico elimina as células endometriais localizadas fora do útero. No entanto, acredita-se que algumas mulheres têm uma predisposição genética à endometriose. Consequentemente, as células endometriais ectópicas apresentam maior capacidade de driblar e resistir ao ataque do sistema imunológico.

Dependência de estrógeno

As células de endometriose apresentam uma maior quantidade de receptores de estrógeno e de aromatase, uma enzima com a capacidade de converter os hormônios sexuais disponíveis na circulação na forma mais potente do estrogênio, — o estradiol.

Portanto, os implantes de endometriose criam microambiente rico em estrógeno com condições favoráveis para que as suas células:

  • proliferem-se e cresçam em tamanho;
  • anexem-se às estruturas ao redor;
  • evitem a sua eliminação pelo sistema imunológico.

Além disso, o estradiol estimula a produção de uma outra substância – a prostaglandina E2 – e provoca a inflamação local. Então, um círculo vicioso se instala, o que torna o tratamento mais desafiador.

Resistência à progesterona

No entanto, o estrógeno não é o único hormônio sexual que tem relação com a endometriose. Após a fase de proliferação do endométrio, a progesterona, em muitas situações, contrabalanceia os efeitos do estradiol.

Cada vez mais, as pesquisas mostram que as células de implantes de endometriose apresentam uma maior resistência à ação da progesterona devido à ausência de seu receptor (o progesterone receptor B, PR-B). 

Acredita-se que isso faz com que as células endometriais não se transformem completamente na fase secretora da menstruação. Como resultado, caso haja o fluxo retrógado, elas têm maiores chances de sobreviver e se multiplicar fora da cavidade uterina.

Inflamação

Por fim, há mais um fator que contribui para a manutenção do ciclo e contribui para os sintomas. Como explicamos, o estradiol estimula a produção de prostaglandina, que apresentam uma ação inflamatória significativa.

Assim, uma cascata de substâncias (citocinas) e células passam a contribuir para a agressão local. Para agravar, esse poderoso hormônio feminino ativa o sistema adrenérgico, que libera moléculas que aumentam a sensibilidade à dor.

Possível tratamento hormonal da endometriose

Ao contrário do que muitas mulheres pensam, o controle da endometriose pode ser feito sem recorrer à cirurgia. Caso a paciente se queixe de dor e não tenha o objetivo de engravidar no futuro próximo, a terapia hormonal é uma opção interessante. Seu objetivo é inibir a produção do estrogênio, que, como vimos, desencadeia e retroalimenta os implantes endometriais ectópicos:

contraceptivos combinados — são as pílulas anticoncepcionais mais usadas pelas mulheres. Apesar de conterem um tipo de estrogênio, ele não estimula o desenvolvimento das células da endometriose, mas inibe a produção de estradiol pelo corpo. Já a progesterona estabiliza o endométrio e facilita seu atrofiamento;

  • progesterona — com o mesmo efeito, também pode ser usada isoladamente por via oral ou muscular;
  • DIU de levonorgestrel — é uma progesterona sintética liberada progressivamente por um dispositivo implantado dentro do útero;
  • análogos da gonadotrofina — são capazes de simular uma menopausa temporária e bloqueia vários hormônios femininos. Podem ser mais efetivos, mas, por trazerem muitos efeitos colaterais, devem ser usados por um período curto;
  • inibidores da aromatase — evitam a conversão dos hormônios sexuais em estradiol pelos implantes.

Como endometriose é desencadeada por um fenômeno hormonal bem complexo, as chances de sucesso do tratamento dependem bastante da experiência do ginecologista que vai acompanhá-la. A partir das características clínicas e anatômicas da doença, ele poderá indicar a terapia potencialmente mais eficaz de acordo com os seus objetivos e suas características.

Quer saber mais sobre a endometriose e como ela pode ser diagnosticada? Então, não perca a leitura deste nosso post completo sobre o assunto!

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