Endometriose profunda: diagnóstico e tratamento

A classificação da endometriose, assim como os demais aspectos da doença, é muito desafiadora. Vários critérios já foram elaborados para agrupar as lesões e classificar sua gravidade. Contudo poucos deles são tão reconhecidos como a subdivisão nestes três tipos: endometriose profunda, endometriose peritoneal superficial e endometriomas ovarianos.

Cada uma delas trará especificidades para o diagnóstico e o tratamento. Por exemplo, enquanto as formas profundas e os endometriomas são frequentemente localizados na ultrassonografia, a superficial geralmente escapa aos métodos de imagem.

Além disso, algumas localizações da endometriose profunda podem apresentar manifestações mais incomuns, como o sangue nas fezes ou na urina. Quer entender melhor? Acompanhe o nosso post!

Endometriose profunda: como diferenciá-la?

A principal característica da endometriose profunda é a invasão profunda (> 5 mm) da superfície do peritônio, um tecido que reveste as estruturas e os órgãos da pelve. Abaixo desse corte, as lesões são classificadas como endometriose peritoneal superficial. Já os endometriomas são lesões císticas do ovário.

Apesar de alguns sinais e sintomas que veremos à frente aumentarem a suspeita de que uma paciente apresenta a forma profunda, eles não são suficientes para o seu diagnóstico. Portanto, é necessário que as lesões profundas do peritônio tenham sido identificadas por algum exame de imagem (ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal ou ressonância magnética) ou pela laparoscopia (cirurgia minimamente invasiva). 

Endometriose profunda e sintomas mais comuns

Os sintomas podem ser comuns a todas essas formas, como também há a possibilidade de casos assintomáticos: 

• Dismenorreia — são as dores em cólica no período menstrual;
• Dor pélvica crônica — são dores persistentes não relacionadas ao ciclo menstrual. Elas devem estar presentes por pelo menos seis meses;
• Dificuldade para engravidar — a infertilidade é diagnosticada quando um casal está a mais de um ano tentando engravidar sem uso de anticoncepcionais e com relações sexuais frequentes durante o período fértil da mulher.

Apesar de não ser uma regra, a dismenorreia e a dor pélvica crônica mais intensas ou incapacitantes levantam uma maior suspeita de endometriose profunda.

Endometriose profunda e outros sintomas menos comuns

Por ultrapassar o peritônio e invadir outros órgãos, a endometriose profunda é uma das formas com maior diversidade de sintomas devido às disfunções que causam nos locais de acometimento. Além disso, ela pode atingir praticamente todas as estruturas contidas na pelve, como:

• Ligamentos uterossacros;
• Intestino grosso e reto;
• Bexiga e vias urinárias;
• Septo vaginal e vagina, entre outras.

Frequentemente, as lesões são encontradas em diversas localidades, especialmente quando o diagnóstico foi tardio. Por isso, a paciente com a forma profunda pode ser polissintomática, apresentando 5 ou mais queixas. Por conseguinte, o impacto da doença na qualidade de vida pode ser muito grande, trazendo muito sofrimento emocional. 

No mesmo sentido, a endometriose profunda também se distingue por apresentar mais frequentemente sintomas mais atípicos, como:

• Dores nas relações sexuais (dispareunia de profundidade);
• Dor ao urinar (disúria) cíclica, a qual pode acompanhar outras disfunções urinárias (incontinência, sangue na urina visível, obstrução);
• Dor ao evacuar (disquezia) e alterações do hábito intestinal (diarreia ou constipação) de modo cíclico.

Uma característica que aumenta a suspeita da presença de endometriose é o surgimento ou o agravamento dos sintomas durante o período menstrual.

Diagnóstico da endometriose profunda

Todas as formas da endometriose apenas podem ser confirmadas pela visualização direta das lesões pela cirurgia minimamente invasiva laparoscópica. No entanto, ela é feita apenas em casos selecionados quando o quadro clínico da paciente ou os objetivos do tratamento a justificam. 

Nos demais casos, o diagnóstico da endometriose profunda é presuntivo a partir de uma alta suspeita devido a:

• Achados sugestivos nos exames de imagem, que mostram lesões provocadas pela doença e/ou;
• Sintomas e sinais compatíveis com a doença. 

Por estar geralmente relacionada a um quadro mais grave ou a um maior risco de complicações, a endometriose profunda pode demandar o tratamento cirúrgico. Nessa situação, a confirmação é feita simultaneamente ao tratamento.

Tratamento da endometriose profunda

O tratamento da endometriose profunda é sempre individualizado, feito de acordo com os sintomas e objetivos da paciente:

• Dismenorreia e dor pélvica — são utilizados os anti-inflamatórios não esteroidais e os analgésicos durante as crises de dor associados à terapia hormonal, que é administrada de forma cíclica ou contínua. Se a mulher tiver dor grave ou incapacitante, a cirurgia minimamente invasiva para retirada das lesões pode ser indicada. Essa intervenção também é recomendada em casos de má resposta da paciente ao tratamento medicamentoso;
• Infertilidade — em pacientes com endometriose profunda, principalmente quando associada a aderências, a cirurgia minimamente invasiva melhora o prognóstico da fertilidade. As terapias de reprodução assistida podem ser realizadas antes ou depois da técnica cirúrgica a fim de otimizar o tratamento.

Em alguns casos, porém, a localização da doença exige a abordagem cirúrgica mesmo se a paciente for assintomática, como:

• Endometriose nos ureteres;
• Endometriose do apêndice cecal;
• Endometriose no íleo.

Por tudo que vimos, o diagnóstico e o tratamento da endometriose profunda podem ser desafiadores. A doença pode causar um grande impacto na qualidade de vida da paciente, reduzindo a sua fertilidade e/ou causando dores intensas ou incapacitantes. Por esse motivo, a assistência de um ginecologista experiente e capacitado para o seu acompanhamento é um diferencial importante.

Quer saber mais sobre a endometriose e as suas características? Confira nosso post sobre o tema!