Dr. Luiz Flávio
Dismenorreia é o termo médico para dor no período menstrual, que ocorre de forma recorrente, ou seja, se repete em todos os ciclos menstruais. São popularmente conhecidas como cólicas menstruais.
A dor geralmente começa um ou dois antes da menstruação ou pode ocorrer junto com o fluxo menstrual. Varia de leve a intensa e é sentida principalmente na parte inferior do abdômen, embora possa irradiar para outras partes do corpo, como a região lombar, pernas, região perineal.
Continue a leitura para entender qual relação a dismenorreia pode ter com a endometriose.
As cólicas menstruais acontecem, entre outros motivos, pela ação de um mediador inflamatório chamado prostaglandina, que pode provocar contração muscular e ativar uma resposta inflamatória. O útero é formado por três camadas, a intermediária, chamada miométrio é uma camada muscular responsável pelas contrações na hora do parto, que auxiliam na expulsão do bebê.
No entanto, durante a menstruação o órgão também pode “contrair” de forma mais intensa, resultando na sensação de dor.
Essa dor tem duração variável e pode estar associada a outros sintomas como náuseas, vômitos, fadiga e diarreia. É chamada dismenorreia.
Embora as cólicas menstruais sejam comuns a muitas mulheres, quando elas manifestam de forma mais intensa, podem sinalizar para alguma doença nos órgãos reprodutores, por isso, é importante procurar auxílio médico.
Esse tipo é denominado dismenorreia secundária. Além de, normalmente, ser mais intensa, geralmente começa mais cedo e dura mais do que as cólicas menstruais comuns. E, se não tratadas, podem, paulatinamente, progredir em sua duração.
A endometriose é uma doença caracterizada pelo crescimento anormal de um tecido semelhante ao endométrio, que reveste internamente o útero, em outras regiões fora dele, mais comumente em locais próximos como o peritônio, ligamentos uterossacros, ovários e tubas uterinas. No entanto, pode invadir também outras estruturas, como a bexiga, o intestino, os ureteres, a inervação pélvica autonômica e somática.
É mais frequente em mulheres durante a fase reprodutiva, embora possa ocorrer em qualquer idade. De incidência bastante comum a endometriose é, atualmente, uma das doenças ginecológicas mais prevalentes, afetando milhões de mulheres em todo o mundo.
A teoria mais aceita para explicar o desenvolvimento anormal é a do fluxo retrógado, proposta pelo ginecologista norte-americano Albert Sampson. Sugere que fragmentos de células do endométrio, que deveriam ser eliminados pela menstruação, retornam pelas tubas uterinas e se implantam em outros lugares. Entretanto, essa teoria não explica totalmente seu aparecimento, tratando-se de uma doença com origem multifatorial, com importante papel de fatores genéticos, ambientais e hormonais.
A endometriose pode se apresentar como aderências pélvicas, implantes ou endometriomas. Pode ser classificada de acordo com o local de implantação, quantidade e profundidade das lesões em quatro estágios de desenvolvimento e, morfologicamente, em três subtipos: endometriose peritoneal superficial, endometriose ovariana e a endometriose infiltrativa profunda.
A endometriose peritoneal superficial (estágios 1 e 2), tem como característica a formação de pequenas lesões no peritônio, planas e rasas. Já na endometriose ovariana a principal característica é a formação endometriomas, enquanto na infiltrativa profunda, as lesões são mais profundas e invadem diversos locais ao mesmo tempo. É o estágio mais avançado da doença.
Embora a endometriose seja uma doença de crescimento lento, o que dificulta, inclusive, o diagnóstico precoce, o tecido anormal provoca um processo inflamatório, que pode resultar na manifestação de diferentes sintomas.
Entre eles infertilidade, dor pélvica, dor durante a relação sexual (dispareunia) e alterações nos hábitos intestinal e/ou urinários, como micção frequente e dolorosa, constipação e diarreia cíclicas.
Os sintomas impactam a qualidade de vida das mulheres portadoras, interferindo em relações profissionais e pessoais.
A dismenorreia secundária é um dos principais sintomas da endometriose. Mulheres com endometriose, como consequência do processo inflamatório, os níveis de mediadores inflamatórios são ainda mais elevados do que em mulheres sem a doença, o que pode explicar a intensidade da dor.
Os sintomas da endometriose podem afetar quase todos os aspectos da vida da paciente, impactando a qualidade de vida, interferindo em relações profissionais e pessoais e, muitas vezes causando o desenvolvimento de transtornos emocionais como ansiedade e depressão.
Para determinar a localização, quantidade e profundidade das lesões, são realizados principalmente dois exames de imagem: a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal, um tipo de ultrassom adequado para a avaliação de endometriose, e a ressonância magnética (RM).
Este ultrassom, também chamado de US transvaginal para endometriose, apresenta excelente sensibilidade e especificidade no diagnóstico do endometrioma ovariano, especialmente nas lesões maiores que 2 cm.
Além disso, possibilita a identificação das lesões características de endometriose infiltrativa profunda, que podem invadir regiões como a retrocervical (entre o reto e vagina), o intestino a bexiga e os ureteres, estruturas que transportam a urina dos rins para a bexiga.
A sensibilidade proporcionada pelo exame pode ser de até de 97%, especificidade de 99% e valor preditivo positivo e negativo de 95%.
Quando não se tem disponível um ultrassom adequado para essa avaliação, a Ressonância Magnética surge como alternativa.
Em ambos os casos, se os exames forem realizados com protocolo adequado e profissional experiente, é possível detectar as lesões determinando o grau de comprometimento dos órgãos afetados.
Os resultados diagnósticos orientam o tratamento mais indicado para cada paciente, que pode variar do controle dos sintomas à cirurgia.
Para conhecer detalhadamente a endometriose, leia o nosso texto institucional. Toque aqui.