Dr. Luiz Flávio
Quando sensações de desconforto ou dor recorrente estão presentes durante ou após a relação sexual, utiliza-se o termo dispareunia.
É uma queixa frequente em ginecologia, podendo atingir uma parcela significativa da população do sexo feminino.
A dispareunia é classificada como superficial, quando sentida na penetração, e como profunda, quando ocorre no fundo da vagina. A dor pode ser em ardência, aguda, como pontadas de cólica, e acaba gerando tensão, o que enrijece os músculos pélvicos e piora o quadro.
Desse modo, a dispareunia é afetada de forma significativa pelas emoções. Uma pequena dor pode se tornar insuportável por inúmeras causas, como uma experiência traumática que seja reativada, autoimagem negativa ou ansiedade por nunca poder ter relações sem dor, por exemplo.
Além disso, mesmo nos dias de hoje a sociedade ainda reprime a sexualidade das mulheres e, muitas, dessa forma, sofrem de dispareunia por vários anos ou durante toda a vida sem buscar tratamento, pois acham que é normal e faz parte das relações íntimas.
As causas que provocam a dispareunia variam de acordo com o local da dor. Para dores superficiais, as explicações mais comuns são o aumento da sensibilidade das áreas externas da vagina, pouca lubrificação, inflamações e infecções na vulva, como herpes genital, inflamações ou infecções da uretra e trato urinário e reações alérgicas, assim como vaginismo.
Já as dores profundas, são causadas principalmente pela doença Inflamatória Pélvica (DIP) e pela endometriose.
O útero é dividido em três camadas. A mais interna é chamada endométrio, formada por células epiteliais, estromas e vasos, e possui função de revestimento. A camada intermediaria, o miométrio, é formada por células musculares lisas e é responsável pelas contrações no momento do parto, enquanto a mais externa, o perimétrio, é revestido por uma membrana serosa e não possui nenhuma função na gestação.
A endometriose é uma condição em que o tecido endometrial desenvolve fora do útero, em lugares ectópicos. Os mais afetados são o peritônio, os ovários, as tubas uterinas, os ligamentos que sustentam o útero, embora também seja frequentemente encontrado no espaço entre o reto e a vagina, na bexiga e no intestino.
Diversas teorias já foram sugeridas para explicar o que leva à implantação do tecido endometrial fora da cavidade uterina. Uma delas é a do fluxo retrógrado, quando fragmentos do endométrio que deveriam ser eliminados pela menstruação retornam pelas tubas uterinas e se implantam em outras regiões.
Outra teoria, chamada metaplasia celômica, explica o aparecimento da endometriose em meninas na pré-puberdade ou que sofrem com condições genéticas que provocam amenorreia (ausência menstruação).
Sugere que as células que originaram o endométrio e o tecido germinativo ovariano permanecem no peritônio e são transformadas em tecido ectópico por metaplasia, quando uma célula adulta é substituída por outra de um tipo celular diferente.
Devido a diversidade de implantação do tecido ectópico os sintomas característicos de endometriose podem manifestar de diferentes maneiras. Contudo, o principal é a dor pélvica, que pode se apresentar como dismenorreia e dispareunia profunda.
A dismenorreia tem como característica a manifestação de cólicas mais severas antes e durante a menstruação, que, com o desenvolvimento da doença, podem se tornar incapacitantes, enquanto a dispareunia ocorre principalmente quando o tecido ectópico invade a região entre o útero e a vagina, ou a vagina, e nos casos em que há presença de endometriomas de maior dimensão.
A saúde física influencia diretamente a psicológica. Dessa forma, as manifestações da endometriose, quando não tratadas, diminuem muito a qualidade de vida das mulheres.
As cólicas menstruais de maior intensidade não são um sintoma natural e podem impossibilitar as ações diárias, enquanto as dores durante a relação sexual provocam sentimento de frustração e diminuem a autoestima. Dor não é normal, portanto, ao menor sinal desses sintomas, procure um especialista para orientações e tratamento.
O tratamento sintomático da endometriose é feito por analgésicos, anti-inflamatórios não esteroides (AINE’s) e contraceptivos hormonais, utilizados para inibir o crescimento e atividade do tecido endometrial ectópico.
No entanto, quando há manifestações mais severas, a abordagem cirúrgica pode ser necessária. A cirurgia é realizada por uma técnica minimamente invasiva chamada laparoscopia e tem como objetivo: a remoção de todos os implantes de endometriose. Também é a indicação quando há o desejo de engravidar.
Por ser uma causa importante de infertilidade, dor e desconforto, é necessário buscar atendimento precoce com uma equipe profissional, especializada na doença. A endometriose quando tratada permite a recuperação da fertilidade em grande parte dos casos. O atendimento psicológico também é importante para lidar com os sintomas.
Entenda detalhadamente sobre a endometriose e os sintomas que a doença pode manifestar tocando aqui.