Dr. Luiz Flávio
Para começar a compreender a gravidez ectópica, podemos investigar a origem da palavra. Ec-, em grego, significa fora e –topus, lugar. Então, essa gestação ocorre quando o embrião não está se desenvolvendo no local adequado. Mas qual seria ele?
Para uma gestação saudável, o feto deverá crescer dentro da cavidade uterina, que é recoberta por células chamada de endométrio. Esse é o ambiente ideal para que as estruturas anexas, como a placenta, sejam formadas sem prejudicar a saúde da mãe e do bebê.
Quando há a implantação em outros locais, a integridade física da gestante pode correr perigo. Quer entender melhor? Acompanhe!
Como ocorre uma gravidez normal?
O encontro entre o espermatozoide e o óvulo (fecundação) não ocorre dentro do útero, mas nas tubas uterinas. Lá, as células do embrião começam a se multiplicar até que, entre 5 e 6 dias após, ele entra na cavidade do útero. Perto do 8º e do 9º dia, fixa-se na parede interna (endométrio) em um processo conhecido como nidação.
Depois disso, inicia-se uma fase de desenvolvimento acelerado. Se tudo der certo, haverá o nascimento de um bebê ao final de 37 a 41 semanas de gestação.
O que é gravidez ectópica?
Para chegar até o útero, o embrião precisa percorrer toda tuba uterina. Para isso, ele é “empurrado” pelos cílios da tuba e pelos movimentos musculares discretos do órgão. No entanto, se houver falha em alguma etapa desse transporte, há o risco de se desenvolver uma gravidez ectópica.
O caso mais comum é a gravidez nas próprias tubas uterinas, que representa cerca de 96% a 98% dos casos. No entanto, é possível que o embrião se implante em qualquer local da cavidade abdominal, como o fígado e o baço.
A frequência em outros locais de implantação é a seguinte:
Os estudos mostram que as mulheres com endometriose podem apresentar maior risco de gravidez ectópica. Se você ou alguém próximo apresenta essa condição, é preciso tratá-la adequadamente, fazer um excelente planejamento reprodutivo e consultas pré-natais periódicas.
Como suspeitar de gravidez ectópica?
Essa condição geralmente vem acompanhada pelos sinais e sintomas:
No entanto, nenhum deles é suficiente para fechar o diagnóstico, sendo muito comuns em outras situações. Por isso, é importantíssimo que a gestações sejam acompanhadas por um ginecologista-obstetra desde a consulta preconcepcional, pois as complicações da gravidez ectópica podem ser muito graves.
Como se diagnostica a gravidez ectópica?
Tudo depende de como a paciente chega ao consultório e ao hospital. Em grande parte das vezes, a paciente relata que realizou um teste de gravidez qualitativo. Ele não fala a quantidade do hormônio presente, apenas indica se está presente ou não no material analisado (resultado positivo ou negativo). Usualmente, as mulheres usam os testes rápidos de urina das farmácias.
Então, o ginecologista-obstetra vai recomendar a realização de um ultrassom (USG), assim como da dosagem (quantitativa) do BHCG. O ultrassom terá o objetivo de mostrar a presença do embrião ou do saco gestacional na cavidade uterina. Poderá perceber 4 diagnósticos principais:
A comparação entre a dosagem do beta-hCG com os achados ultrassonográficos pode ajudar a elucidar a hipótese diagnóstica.
Para valores maiores do que 2000, considera-se que há uma altíssima chance de haver gravidez ectópica em curso, caso não se tenha visualizado sinais gestacionais intrauterinos. Então, a paciente será encaminhada para o tratamento/acompanhamento, sobre o qual falaremos mais à frente. Todavia, se for menor do que esse valor, mas a USG não encontrar evidência de saco gestacional dentro da cavidade do útero, o médico levantará três suspeitas principais:
Diante disso, a próxima etapa será a realização de uma nova dosagem de beta-hCG em 48h junto com novo ultrassom. Nesse caso, as possibilidades são as seguintes:
Por que ela é um risco?
Especialmente quando a gravidez ectópica evolui bastante, pode ocorrer um quadro chamado de gravidez ectópica rota. Nela, há uma ruptura das trompas, provocando um quadro gravíssimo de sangramento e de inflamação abdominal.
Então, se a gestante notar hemorragias intensas, um dor muito forte, desmaiar ou perder a consciência, é importante que ela procure diretamente um serviço de urgência e emergência. Afinal, nesses casos, a melhor conduta será a realização de uma cirurgia.
Qual a conduta ao se diagnosticar a gravidez ectópica?
Como explicamos, tudo dependerá do estado da paciente. Se ela estiver com sinais de hemorragia, a melhor conduta é a cirurgia. Nos demais casos, vai depender do resultado dos exames:
Portanto, a gravidez ectópica demanda uma atenção muito especial. Por esse motivo, é sempre importante planejar a gestação junto a seu ginecologista-obstetra de confiança, o qual deve ser um especialista na área e com bastante experiência.
Ele vai investigar sua condição de saúde, tratar as condições que podem predispor a gestações de risco e auxiliar a paciente na tomada de decisão.
Quer saber mais sobre a endometriose e seu tratamento? Não deixe de conferir este nosso post bem completo sobre o assunto!