Dr. Luiz Flávio
As sinequias uterinas são formações de tecido cicatricial que se desenvolvem como pontes no interior do útero. Por ocuparem espaço na cavidade uterina, chegando à obstrução total, a doença pode desencadear uma série de problemas, como alterações do fluxo menstrual, dificuldades reprodutivas e abortamentos recorrentes.
O útero é um órgão fundamental no aparelho reprodutor feminino e tem como principal função abrigar o embrião e favorecer o desenvolvimento do feto. Doenças que afetam a cavidade uterina prejudicam a saúde reprodutiva da mulher em vários níveis.
Estudos apontam, por exemplo, que alterações no útero estão presentes em até 50% dos casos de mulheres com histórico de abortamento habitual.
Neste texto, darei atenção às sinequias uterinas. Acompanhe o texto para saber mais sobre essa condição!
As sinequias uterinas, também conhecidas como síndrome de Asherman, formam um tipo de ponte que faz a ligação entre as paredes do útero. Como consequência, a cavidade uterina perde espaço, o que pode dificultar o funcionamento adequado do órgão.
Essas aderências intrauterinas são constituídas por tecido cicatricial e se desenvolvem no endométrio (revestimento interno do útero).
As sinequias podem ser classificadas de acordo com sua gravidade. Os estágios da doença são:
Para avaliar as sinequias uterinas, é necessário ter um enfoque individual, uma vez que os quadros podem variar de complexidade terapêutica e apresentar diferentes repercussões.
Um dos principais fatores que favorecem o surgimento das sinequias uterinas é a realização de curetagem, um procedimento médico utilizado para limpar o útero após parto ou abortamento e retirar os materiais restantes da placenta e restos ovulares.
Em menor escala, outros traumas resultantes de intervenções uterinas também estão relacionados ao surgimento das sinequias, como:
Em outros casos, as aderências cicatriciais resultam de processos infecciosos, como endometrite, principalmente causada por clamídia. Contudo, também há pacientes com diagnóstico de sinequias uterinas sem que tenham passado por nenhuma das situações citadas, isto é, sem fatores relevantes no histórico.
As sinequias uterinas nem sempre apresentam sintomas. O caráter sintomático e a intensidade dos efeitos estão relacionados à gravidade do quadro, ou seja, variam de acordo com a localização das aderências e extensão das obstruções.
Alterações na menstruação são o principal indício da doença. As sinequias podem afetar o fluxo menstrual de diferentes formas. Podem ocorrer: amenorreia (ausência de sangramento); hipomenorreia (redução significativa do fluxo); dismenorreia (cólicas intensas).
Apesar de o fluxo menstrual irregular estar associado à presença de sinequias uterinas, é preciso avaliar cada caso de forma criteriosa. Isso porque existem diversas outras condições clínicas que também afetam a menstruação.
Com relação à saúde reprodutiva da mulher, esse quadro também representa prejuízos, em vários sentidos. A doença pode provocar infertilidade secundária, em razão dos bloqueios formados pelas aderências, os quais dificultam a fecundação ou a fixação do embrião na camada endometrial.
Quando, mesmo com as obstruções, o óvulo fertilizado consegue se fixar na parede uterina, as sinequias podem ocasionar abortamentos de repetição, uma vez que o embrião muitas vezes não recebe o aporte sanguíneo necessário para o seu desenvolvimento. Se, ainda assim, houver evolução fetal, existe o risco de parto prematuro, em decorrência da deformação da cavidade uterina.
Em quadros mais brandos, ou seja, quando as aderências ocupam o útero de forma parcial, tanto a concepção quanto o crescimento fetal tendem a ocorrer sem complicações.
O primeiro passo para o diagnóstico é sempre a anamnese, isto é, a investigação clínica baseada nos sintomas e no histórico da paciente. Para confirmação do quadro, o médico pode solicitar os seguintes exames:
A histeroscopia apresenta certas vantagens em relação aos outros métodos diagnósticos e permite localizar as sinequias, bem como avaliar seu tipo e extensão, de forma precisa. Esse procedimento, além de ser considerado padrão-ouro para investigar doenças que afetam a cavidade uterina, ainda é utilizado como método de tratamento.
A definição terapêutica é variável. Há casos simples de serem tratados, assim como há condições que exigem intervenção cirúrgica de maior complexidade. Os tratamentos incluem desde procedimentos histeroscópicos, em ambulatórios ou centros cirúrgicos, até a implantação de dispositivos intrauterinos (DIU) e terapias hormonais.
Diante da não identificação de sintomas que levem à suspeita de um quadro de sinequias uterinas, a paciente pode chegar à descoberta da doença caso encontre dificuldades para iniciar ou manter uma gestação. Para identificar de forma precoce esse ou outro problema que afete o sistema reprodutor feminino, a principal recomendação é manter as visitas ao ginecologista em dia.
Ainda tem dúvidas sobre o assunto? Leia mais um texto explicativo sobre sinequias uterinas e entenda um pouco mais!