Dr. Luiz Flávio
A endometriose é uma doença crônica, inflamatória, hormônio-dependente, que se desenvolve durante a vida fértil da mulher. A principal consequência da endometriose é afetar a qualidade de vida da mulher, o que abrange a possibilidade de perda da fertilidade.
Muitos casais que desejam ter filhos tendem a se preocupar caso a gravidez não ocorra após um determinado tempo. É comum que essa preocupação seja prematura e infundada.
Há casos, no entanto, em que a ausência da gestação após determinado tempo pode ser classificada como infertilidade, que pode ser causada por motivos diversos, sendo a endometriose um deles.
Baseado no resultado de diferentes exames, o profissional será capaz de determinar se as causas da infertilidade são femininas, masculinas ou de ambos, além de obter um diagnóstico que as especifique.
A infertilidade pode ser causada por doenças diversas e, em muitos casos, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhores serão as chances de tratamento.
Neste artigo, aborda-se a relação entre a endometriose e a infertilidade.
O tecido que reveste a camada interna do útero é denominado de endométrio. Sua função é receber o embrião, o qual se fixa a ele (nidação), para início da gravidez. Ao longo do ciclo menstrual, os diferentes hormônios femininos o estimulam a fim de facilitar a nidação.
No entanto, por causas ainda não totalmente claras, fragmentos desse tecido endometrial podem surgir fora do útero, em outros locais da cavidade abdominopélvica. Quando isso ocorre, esses focos também sofrem ação hormonal, o que provoca uma reação inflamatória local e outras consequências.
Esse crescimento do tecido semelhante ao endométrio em outros órgãos e regiões caracteriza a endometriose.
A infertilidade é definida como o insucesso em obter uma gestação após um ano de tentativas regulares sem a utilização de métodos contraceptivos em mulheres abaixo de 35 anos, ou seis meses se a mulher tiver mais de 35 anos.
Caso a gravidez não ocorra após esse período, é importante procurar um médico para investigar as possíveis causas da condição.
A situação se agrava quando há histórico de ciclos menstruais irregulares ou doenças como síndrome dos ovários policísticos (SOP), consequências de infecções na região da pelve (moléstia inflamatória pélvica aguda) e outras doenças que possam afetar a região genital ou os órgãos do sistema reprodutor.
Nesses casos, a avaliação médica pode ser realizada antes do período indicado. O diagnóstico precoce em todos os casos aumenta as chances de tratamento e de recuperação da capacidade fértil da mulher.
As possíveis associações entre endometriose e infertilidade têm sido estudadas há muito tempo. Existem três tipos de endometriose na região pélvica: peritoneal, ovariana (endometriomas) e infiltrativa profunda.
A peritoneal atinge a membrana que recobre os órgãos abdominais chamada peritônio. Os endometriomas se formam nos ovários e é uma das formas mais graves da doença, no tocante à saúde reprodutiva.
A infiltrativa profunda se caracteriza por implantes da doença com mais de 5 mm.
Os endometriomas, que geralmente estão associados à endometriose profunda, podem afetar a função ovariana, alterando suas taxas ovulatórias.
O tratamento do endometrioma por intervenção cirúrgica também deve ser realizado por profissional experiente a fim de mitigar os possíveis danos à reserva ovariana.
Em quadros de endometriose profunda, a presença dos focos da doença pode levar à formação de aderências e alterar o funcionamento dos órgãos afetados.
Essas aderências podem causar uma distorção anatômica que podem diminuir a mobilidade tubária, dificultando a captura ovular e a fecundação.
Além disso, a doença também pode provocar falhas de implantação do embrião no endométrio, diminuindo as taxas de gravidez.
Em muitos casos, no entanto, a endometriose não causa infertilidade, mas mesmo assim pode prejudicar a qualidade de vida da mulher.
Uma vez detectado que a causa da infertilidade está relacionada com a endometriose, o profissional indica o melhor tratamento. Os tratamentos para essa doença são sempre conservadores, visando preservar os órgãos afetados.
Quando sintomático, o tratamento pode ser feito com medicamentos analgésicos ou hormonais que visam inibir o desenvolvimento da doença.
Casos mais extremos podem exigir cirurgia. O médico solicita um exame de ultrassom especializado para endometriose para a detecção dessa doença, a fim de analisar os órgãos afetados e determinar qual a melhor forma de remover esses focos.
Caso a anatomia encontre-se distorcida, a cirurgia poderá repará-la.
Quando a principal queixa é a infertilidade, podem ser indicadas as técnicas de reprodução assistida.
A endometriose é uma doença que pode levar à infertilidade, mas seu correto diagnóstico e tratamento pode fazer com que pacientes possam realizar o sonho de ser mães.
Para saber mais acerca dessa doença, leia nosso texto especial sobre endometriose.