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Endometriose e individualização do tratamento

Endometriose e individualização do tratamento

Dr. Luiz Flávio

A endometriose é uma doença com uma apresentação clínica muito diversa. Ela pode acometer diversas regiões do corpo da mulher e manifestar sintomas muito distintos. Por isso, o diagnóstico e o tratamento precisam ser individualizados, levando também em consideração os desejos das pacientes.

Na maioria dos casos, a endometriose se caracteriza pela presença de três sintomas principais: a infertilidade, a dor pélvica crônica e a dor menstrual intensa. Eles podem estar associados ou não.

Portanto, a conduta do médico vai depender do desejo de engravidar da mulher, da intensidade dolorosa e de situações que demandam necessariamente a intervenção cirúrgica. Quer saber mais sobre o assunto? Acompanhe!

As manifestações da endometriose

A endometriose apresenta sintomas comunsa várias outras condições ginecológicas, o que pode levar ao desprezo desses sintomas. Por isso, fique sempre atenta ao que chamamos dos 6 D’s. Na presença de um ou mais, é importante que seu ginecologista-obstetra investigue a possibilidade de endometriose:

Dor pélvica crônica: é aquela que não está relacionada com a menstruação e dura, pelo menos, 6 meses;
Dismenorreia: é a dor de alta intensidade durante a menstruação. São aquelas cólicas que trazem muito sofrimento e podem fazer com que a mulher procure o pronto-socorro;
Dificuldade para engravidar: após um ano de tentativas frequentes do casal no período fértil da mulher (sem uso de nenhum método contraceptivo);
Dispareunia de profundidade: é o nome técnico para a dor durante a relação sexual.
Dificuldade para evacuar cíclica: nos períodos próximos e durante a menstruação, pode ocorrer constipação ou diarreia. Ela melhora após alguns dias;
Dificuldade para urinar de maneira cíclica: nessa mesma ocasião, a mulher pode sentir dor durante a micção.

Especialmente em relação aos três primeiros sintomas, a suspeita de endometriose é bem forte. Boa parte das mulheres com essas queixas é diagnosticada com a doença.

O diagnóstico individualizado da endometriose

A escolha do método diagnóstico vai depender da avaliação do médico. Geralmente, as primeiras indicações são:

Ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal

Após tomar medicamentos para esvaziar o intestino, a paciente realiza o exame. O transdutor do ultrassom é colocado dentro da vagina, onde se pode distinguir melhor as estruturas. Essa é uma excelente forma de identificar a endometriose profunda. Também permite diferenciá-la de outras doenças que podem apresentar sintomas semelhantes(como miomas e adenomiose).

Ressonância magnética

Nos casos de suspeita de endometrioses, esse exame pode ser uma boa alternativa, principalmente quando a ultrassonografia não for acessível. No entanto, apresenta custos mais elevados.

Laparoscopia com biópsia

É considerado o padrão-ouro por permitir a comprovação histológica. Apesar de ser uma cirurgia minimamente invasiva, ela ainda necessita de todos os cuidados de um procedimento de maior porte. Então, é feita nos casos em que a cirurgia para o tratamento também está indicada. Atualmente o seu papel como diagnóstico encontra-se restrito a situações de fortes suspeitas clínicas sem comprovação por métodos de imagem.  

Tratamento individualizado da endometriose

O tratamento depende dos objetivos da mulher e das características da doença.

Mulheres que não desejam engravidar em um futuro mais próximo

A individualização considerará os seguintes critérios:

Assintomáticas: são apenas acompanhadas para verificar a evolução da doença (conduta expectante);
Dores leves: utilizam-se medicações analgésicas e/ou hormonais, caso não haja contraindicações;
Dores moderadas ou intensas: nessa situação, deve-se tentar o tratamento clínico em um primeiro momento. Se ele falhar, a cirurgia está indicada, apresentando uma boa efetividade.

Mulheres que desejam engravidar nos próximos meses

Nessa situação, a cirurgia pode ajudar a recuperar a fertilidade. Em situações específicas, indica-se que as pacientes façam o congelamento de óvulos ou de embriões anteriormente. Se a mulher desejar adiar a gestação, o tratamento clínico pode ser tentado.

Os tipos de endometriose

Outra razão pela qual a endometriose deve ter o diagnóstico e o tratamento individualizado é a sua diversidade de formas clínicas. Ela pode surgir no:

Ovário

É a localização mais comum e apresenta características específicas, formando um tumor benigno com conteúdo escuro, conhecido como cisto de chocolate, os endometriomas. Quando ele é maior que 4 centímetros, é necessário operar para evitar complicações, pois pode desencadear a torção dos ovários e/ou romper, causando infecções e hemorragias.

Trompas uterinas

Pode estar associado a casos de infertilidade, pois é nessa área em que ocorre a fecundação do óvulo e o transporte do embrião nos primeiros dias. Quando o tratamento é adiado ou o diagnóstico demora a ser feito, as aderências provocadas pela endometriosepodem obstruir o canal tubário. Com isso, a fertilidade natural fica comprometida.

Peritônio

É uma membrana que protege a região abdominal. A forma superficial é a mais frequente. Entretanto pode se instalar mais internamente, quando é conhecida como endometriose profunda, atingindo também os ligamentos uterinos e ovarianos;

Trato urinário

A endometriose pode se instalarprincipalmente na bexiga e nos ureteres. Nesses casos, as queixas urinárias são mais frequentes, além de haver o risco de causar uma obstrução, que provoca o acúmulo de urina nos rins (hidronefrose). Essa é uma condição grave, que demanda tratamento cirúrgico para evitar a perda de função.

Trato gastrointestinal

Pela proximidade com o útero, o intestino grosso é um dos órgãos mais afetados fora do sistema geniturinário. Em muitas situações, pode ser controlado sem cirurgias, porém ela será necessária quando:

O tratamento clínico falhar;
Houver invasão mais profunda;
Houver risco de obstrução intestinal.

Em casos raros, a endometriose pode se instalar no apêndice ou no íleo (região final do intestino delgado). Em ambas, a cirurgia é necessária.

Outros órgãos mais distantes

Em situações excepcionais, a endometriosepode ser encontrada em outros órgãos, como o pulmão e o diafragma. Acredita-se que isso ocorre quando o endométrio é transportado pela corrente sanguínea ou pelos vasos linfáticos ou por metaplasia de células embrionárias.

Diante de tudo isso, a individualização do tratamento da endometriose é essencial. É uma doença muito complexa, cujas repercussões variam bastante. Então, a conduta do médico deve ser cuidadosa e atenciosa, especialmente quando a mulher deseja engravidar.

Quer saber mais sobre o tema? Não deixe de conferir outro texto bem completo sobre o assunto!

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