Dr. Luiz Flávio
A primeira menstruação (menarca) marca o início do ciclo reprodutivo feminino. Ela ocorre no início da adolescência e pode trazer consigo alguns sintomas desconfortáveis, como cólicas.
Em alguns casos, no entanto, esses sintomas podem também ser indício de que há algo de errado. O sistema reprodutor feminino pode ser acometido por doenças que afetam seu funcionamento, caso da endometriose.
Cada órgão que compõe o sistema reprodutor feminino exerce importante papel no comando dos ciclos menstruais e da fertilidade feminina. Embora essa não seja uma preocupação durante a adolescência, há doenças que podem surgir durante esse período e comprometer o correto funcionamento desses órgãos, causando complicações.
Doenças como a endometriose podem, a depender do grau da complicação, afetar a vida de suas portadoras mesmo na adolescência, tornando-se um obstáculo para a realização de tarefas rotineiras.
Leia o texto e saiba mais sobre a endometriose em adolescentes, que pode ser um desafio.
O útero é revestido internamente por um tecido chamado endométrio. Durante uma etapa conhecida como nidação, o embrião se fixa na parede uterina para que a gravidez tenha início. Como forma de se preparar para essa implantação, o organismo feminino estimula, por meio da ação hormonal, o espessamento do endométrio.
No entanto, esse tecido endometrial pode, por vezes, ser encontrado em outros locais além da cavidade uterina, causando a inflamação dos órgãos afetados. Esse desenvolvimento do tecido endometrial em outros locais que não na cavidade uterina é denominado endometriose.
Essa doença surge durante a idade reprodutiva da mulher, que se estende normalmente entre os 13 e os 45 anos de idade. Isso significa dizer que ela pode afetar a mulher desde a primeira menstruação, quando o corpo começa a produzir estrogênio e a adolescente passa a ovular e menstruar.
Estima-se que em 66% dos casos a doença surja antes dos 20 anos de idade. Algumas mulheres podem ter predisposição genética para o desenvolvimento da doença. Adolescentes com anormalidade do trato genital apresentam também maior risco de ter endometriose.
O diagnóstico dessa doença é particularmente difícil durante a adolescência, uma vez que seus sintomas podem ser confundidos com aqueles referentes à puberdade.
Ao menstruar pela primeira vez, muitas adolescentes são instruídas por sua família, amigas ou médicos acerca das dores menstruais comuns nesse período. A dismenorreia ou cólica menstrual é um sintoma ginecológico comum, presente em cerca de 50% das mulheres adultas e 70% das adolescentes.
Entretanto, ela também é um dos sintomas associados à endometriose. O padrão dessa dor pode variar, sendo cíclica ou não cíclica. Sua intensidade também pode variar de paciente para paciente.
Essas dores têm impacto direto na vida social e pessoal das adolescentes, mas muitas vezes não são relatadas.
Quanto mais cedo for feito o diagnóstico de endometriose, mais efetivo será seu tratamento. O primeiro passo para o diagnóstico é a suspeita médica com base no relato de sintomas por parte da paciente.
O diagnóstico clínico deve ser o mais exato possível, o que inclui investigar anomalias congênitas em todos os órgãos e sintomas. Essa é uma avaliação prejudicada no caso de adolescentes, especialmente aquelas que não são sexualmente ativas, o que impossibilita a realização de alguns exames.
A confirmação do diagnóstico pode ser feita por meio da ultrassonografia especializada, quando possível, ou por ressonância magnética.
O exame que permite o diagnóstico definitivo é a videolaparoscopia. Associado com o exame clínico, esse exame permite a confirmação do diagnóstico e realização do tratamento adequado de acordo com o tipo de endometriose, entretanto só precisa ser realizada na menor parte dos casos.
É essencial que as adolescentes comecem a se consultar com um ginecologista logo após a primeira menstruação, uma vez que exames de rotina podem auxiliar a detectar doenças em seu estágio inicial.
O tratamento dessa enfermidade depende do diagnóstico e da classificação do tipo da doença. Não são todos os casos que têm tratamento definitivo, o que significa dizer que, embora os focos da doença possam ser controlados, nem sempre precisam ser erradicados.
Pode-se realizar um tratamento focado no alívio dos sintomas, principalmente no caso em que a paciente relata sentir dores intensas e/ou prolongadas.
Embora a fertilidade não seja uma preocupação na adolescência, o tratamento deve fazer essa avaliação, para que, no futuro, a paciente tenha a possibilidade de engravidar caso deseje.
Dessa forma, pode-se realizar o tratamento com anti-inflamatórios, com medicamentos hormonais ou, em casos mais severos, com a abordagem cirúrgica. Nesse caso, deve-se discutir com os pais acerca dos prós e contras dessa abordagem.
A endometriose é uma doença crônica que pode afetar adolescentes, podendo ser um empecilho para a realização de atividades rotineiras. Saiba mais sobre essa doença em nosso conteúdo especial sobre o assunto.