Dr. Luiz Flávio
Você sabe o que significa tecido ectópico? Esse termo está relacionado a algumas doenças, como a endometriose. Ectópico é a união de duas expressões do Grego Antigo, “ec-” é traduzido como “fora”, e ”topus” é lugar. Portanto, indica que há algo fora do seu lugar normal.
Talvez, a aplicação mais conhecida dessa palavra seja gravidez ectópica, a qual ocorre quando o embrião se implanta fora da cavidade uterina, em locais como as tubas uterinas, o abdômen, o ovário, uma cicatriz prévia de cesárea.
Por sua vez, tecido significa um agrupamento de células com características e funções semelhantes. Exemplificando, o endométrio recobre a cavidade uterina para secretar substâncias e facilitar a instalação do embrião durante a gestação.
Durante a menstruação, ele descama e é liberado no canal vaginal. Erros nesse processo podem fazer com que ele se instale em outros órgãos, tornando-se um tecido ectópico. Quer entender melhor? Acompanhe!
O nosso corpo é um sistema muito organizado. Para o seu funcionamento adequado, todos os processos devem ocorrer no lugar e no tempo certos. Do contrário, uma doença ou uma lesão podem ser desencadeadas, prejudicando o nosso equilíbrio orgânico, a nossa saúde física.
Por isso, contamos com diversos mecanismos internos para evitar que as células de uma região se proliferem em outra, como:
Quando essas células apresentam um comportamento agressivo e perdem parte de sua função, dizemos que houve uma neoplasia maligna, o câncer.
Entretanto, há exemplos mais comuns, benignos, como:
No entanto, a ectopia mais frequente e relevante clinicamente na mulher é a endometriose.
As ectopias podem surgir devido a vários mecanismos:
Associado a esses eventos, deve haver uma falha do sistema imunológico em eliminar o tecido em local “estranho”.
A endometriose nada mais é do que um tecido ectópico constituído de endométrio. Esse grupo de células se localiza originalmente na cavidade uterina e apresentam as seguintes características:
Portanto, para ser diagnosticado como endometriose, o tecido deve se instalar fora do útero e manter grande parte das suas características originais.
Caso invadisse a parede do próprio útero, receberia o nome de adenomiose. Por sua vez, quando perde as características estruturais e funcionais, invadindo outros órgãos, diríamos que se trata de um câncer endometrial. Essa diferenciação será importantíssima para o tratamento.
Isso ajuda a explicar algumas características da doença e de seu tratamento. Afinal, o tecido ectópico de endométrio responde a quase todos esses mecanismos. No entanto, ele é mais resistente à ação da (progesterona), o que as impede de amadurecer e entrar em morte programada.
Assim, durante o período menstrual, as células de defesa provocam uma inflamação intensa na tentativa de eliminar o tecido ectópico, que resiste ao processo. Consequentemente, surge a dismenorreia (dor menstrual), a dor pélvica crônica e as alterações que aumentam o risco de infertilidade. Por sua vez, na menopausa, a produção de estradiol cai. Pela falta de estímulo hormonal, a endometriose pode regredir significativamente.
O tratamento clínico geralmente envolve a utilização de pílulas anticoncepcionais combinadas, com apresentação dos componentes:
Também é possível utilizar apenas as pílulas de progesterona ou medicamentos que “simulam” a menopausa.
O tecido ectópico endometrial poderá se instalar nas trompas, nos ovários, no peritônio, no intestino e em vários outros locais. Por isso, o acompanhamento com um ginecologista experiente é essencial para a saúde da mulher e para o diagnóstico precoce das doenças endometriais.
Quer saber mais sobre a endometriose? Confira nosso post bem completo sobre o tema!