Dr. Luiz Flávio
As cólicas menstruais são antigas conhecidas da maior parte das mulheres em idade reprodutiva e podem ser um incômodo frequente, embora nem sempre sejam um sinal de problemas com o aparelho reprodutor feminino.
Especialmente na passagem entre o final de um ciclo reprodutivo e o início do próximo, as cólicas menstruais são resultado direto da atividade uterina. As cólicas acontecem, principalmente, pela interação entre o miométrio e o endométrio – duas das camadas que compõem a parede uterina. Além delas existe a camada serosa, que reveste o órgão externamente.
O endométrio, sob ação da progesterona, produz substâncias pró-inflamatórias que induzem a contração ritmada do miométrio, auxiliando na expulsão do sangue menstrual.
Continue conosco na leitura deste texto e entenda melhor o que são cólicas menstruais e quando devem despertar a atenção da mulher para buscar atendimento médico.
Boa leitura!
O que popularmente chamamos de cólicas menstruais é denominado tecnicamente dismenorreia: palavra que significa menstruação dolorosa. As cólicas menstruais (dismenorreia) podem ser primárias ou secundárias.
As cólicas menstruais que mais se manifestam nas mulheres em idade reprodutiva é a forma primária da dismenorreia, normalmente leves, raramente incapacitantes. A dismenorreia primária pode ser idiopática – ou seja, sem causas conhecidas – e não configura uma doença propriamente dita.
Nos casos de dismenorreia secundária, as cólicas menstruais são mais intensas. Nesses casos, normalmente as cólicas menstruais significam alterações mais profundas nas estruturas reprodutivas e por isso muitas vezes estão relacionadas a diagnósticos como de endometriose.
As cólicas menstruais da dismenorreia primária costumam se caracterizar pela localização na região pélvica, com irradiação possível para as costas e coxas. As cólicas menstruais mais severas podem ser acompanhadas de náuseas, vômitos e tonturas, além de alterações na rotina intestinal e urinária da mulher.
As cólicas menstruais estão relacionadas principalmente a um aumento na produção de prostaglandinas, relacionadas à capacidade contrátil do útero, importante tanto para ajudar na “expulsão” do sangue menstrual, como na saída do bebê durante o parto. As cólicas menstruais podem acontecer em todos os ciclos reprodutivos ou somente em alguns deles.
Em um ciclo menstrual normal, a menstruação marca o início da primeira fase do ciclo, com a retomada da produção de gonadotrofinas, hormônios hipofisários que estimulam os ovários, promovendo o recrutamento de folículos ovarianos para amadurecimento e aumentando a concentração de estrogênios.
Após a ovulação, que ocorre no auge da concentração de gonadotrofinas e estrogênios, as células dos folículos ovarianos formam o corpo-lúteo, cuja principal função é produzir progesterona, hormônio predominante na segunda fase do ciclo reprodutivo.
Além de completar a ação estrogênica no endométrio, iniciada na primeira fase do ciclo reprodutivo, a progesterona também sinaliza a produção de prostaglandinas, hormônios de ação parácrina, ou seja, que não precisam entrar na corrente sanguínea para agir, neste tecido.
Uma das funções das prostaglandinas é interagir com o miométrio, camada muscular da parede uterina, induzindo a contração e distensão dessas células musculares.
Quando a mulher apresenta cólicas menstruais muito frequentes e intensas, observa-se um acúmulo maior de prostaglandinas ou alterações na expressão da progesterona, que torna a menstruação mais dolorosa.
Se a mulher apresenta cólicas menstruais muito intensas, o quadro geral pode estar relacionado a alterações uterinas ou à endometriose.
A maior parte das doenças que provocam intensas cólicas menstruais está relacionada ao aparecimento de massas celulares estranhas ao tecido às quais estão aderidas e que se tornam inflamadas, especialmente em alguns momentos do ciclo reprodutivo.
A inflamação dessas massas celulares, como acontece na endometriose, pólipos endometriais de maior volume e miomas uterinos, também provoca um aumento na produção de prostaglandinas, resultando em contrações uterinas mais intensas, duradouras e dolorosas.
A principal forma de controlar as cólicas menstruais, decorrentes da dismenorreia primária, é o relaxamento da musculatura uterina.
Para isso, podem ser utilizados anti-inflamatórios e antiespasmódicos, prescritos de acordo com as especificidades de cada caso. Essa medicação diminui a resposta inflamatória e a concentração de prostaglandinas, diminuindo consequentemente a contração uterina e as cólicas menstruais.
Simultaneamente ao uso dessa medicação, a mulher também pode melhorar a sensação dolorosa com compressas e bolsas de água quentes, que potencializam o relaxamento uterino e aliviam as cólicas menstruais.
Se as cólicas menstruais estão relacionadas à endometriose ou a outras doenças conhecidas, o tratamento anti-inflamatório pode ajudar, mas o controle das cólicas menstruais – e dos demais sintomas concomitantes – deve ser feito por medicação hormonal ou intervenção cirúrgica.
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