Dr. Luiz Flávio
A infertilidade, de maneira geral, é um problema que vem afetando cada vez mais pessoas ao redor do globo. Aproximadamente 15% da população mundial passa por dificuldades para gerar filhos, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Este problema pode ocorrer igualmente em homens e mulheres, sendo que as taxas de infertilidade se dividem em porcentagens iguais para cada sexo.
As causas de infertilidade nas mulheres podem ser diversas, no entanto o fator mais determinante da infertilidade feminina é natural: a idade. Isso se dá porque a mulher possui uma reserva ovariana limitada, que vai sendo utilizada a cada ciclo menstrual e termina na menopausa.
Além da idade, muitas doenças, como endometrites, pólipos endometriais, miomas uterinos e principalmente a endometriose podem prejudicar a fertilidade feminina. Muitas vezes, quando não tratadas adequadamente, podem acabar tornando a mulher infértil de forma permanente.
A endometriose é uma doença muito associada à infertilidade, principalmente por ser silenciosa, ou seja, muitas vezes não apresenta sintomas nas fases iniciais. Além disso é uma doença de difícil diagnóstico, já que seus sintomas podem ser muito semelhantes aos de outras doenças.
Algumas características específicas da endometriose, às quais abordaremos neste texto, também contribuem para que seja muito associada a casos de infertilidade.
Continue na leitura do texto para entender melhor como a endometriose pode dificultar o sonho de ter filhos, especialmente quando não diagnosticada rapidamente e tratada de maneira correta.
Boa leitura!
O que é a endometriose?
Endometriose é uma doença inflamatória que se caracteriza pela presença de focos endometrióticos – porções de células semelhantes às encontradas no endométrio – fora do útero.
O endométrio é a camada que reveste a parede interior do útero. Existem diferentes teorias para as causas da endometriose, uma delas, porém, é atualmente a mais aceita entre os ginecologistas, a teoria de Thompson.
A teoria de Thompson propõe que a endometriose acontece quando células endometriais, que deveriam ser descartadas do organismo da mulher junto com o sangramento menstrual, acabam fazendo o caminho inverso e atingindo regiões dentro da pelve, fora do útero – como tubas uterinas e ovários – causando a inflamação que caracteriza a endometriose.
Os focos endometrióticos podem afetar diferentes regiões fora do útero. Geralmente se alojam nas tubas uterinas e ovários, mas podem afetar também a bexiga, intestinos e inclusive o próprio útero, na parede externa do órgão, em contato com o peritônio.
É uma doença muito comum, que costuma afetar mulheres com idades ao redor de 30 anos, podendo, porém, aparecer ainda na adolescência. Na maioria dos casos é inicialmente assintomática e isso ajuda a dificultar a percepção do problema pela mulher, que atrasa a procura pelo tratamento.
O diagnóstico de endometriose costuma ser difícil, já que seus sintomas são semelhantes a outras doenças estrogênio dependentes, que atingem as mulheres. Muitas vezes também, o exame mais usado para diagnosticar a doença – ultrassonografia pélvica com preparo intestinal – pode não detectar de maneira conclusiva os focos endometrióticos.
Nestes casos a maneira mais confiável para conseguir um diagnóstico final para a endometriose, é a realização de uma biopsia feita por videolaparoscopia.
Em casos mais avançados, a endometriose pode apresentar diversos sintomas, dependendo da região em que os focos estão alojados e da extensão da doença.
O principal sintoma, no entanto, é a dor pélvica intensa. Além disso quando não tratada de maneira adequada ou de forma tardia, pode acabar levando a mulher a ficar infértil permanentemente.
Como a endometriose age no corpo da mulher?
Como foi mencionado anteriormente, a endometriose é caracterizada pela presença de focos endometrióticos fora da cavidade uterina. Quando estes focos se alojam nas estruturas fora do útero, local original do tecido endometrial, o organismo dispara um alerta e o sistema imunológico começa a enviar células de defesa, inclusive inespecíficas, conhecidas como NA (natural killers).
Estas células de defesa identificam os focos endometrióticos como corpos estranhos e passam a atacá-los. Este ataque produz uma reação inflamatória, característica da endometriose, que pode se agravar e afetar as funções dos órgãos em que estão aderidos os focos endometrióticos.
Este processo inflamatório é responsável também pelos sintomas da doença, como as dores pélvicas intensas, sangramentos vaginais irregulares, dor na menstruação e durante o ato sexual, sangramento anormal durante a menstruação e infertilidade.
Os focos endometrióticos normalmente também crescem em tamanho, o que agrava cada vez mais os sintomas e as sequelas da doença, além de dificultar o tratamento.
Como a endometriose pode prejudicar a fertilidade da mulher?
Quando a endometriose afeta as tubas uterinas, os focos endometrióticos ao crescerem, podem obstruir a passagem de gametas femininos dos ovários para o útero. As obstruções também impedem a chegada dos espermatozoides até o óvulo, gerando dificuldades para engravidar.
Se há fecundação, a situação pode se tornar muito grave, já que o embrião pode acabar se fixando na própria tuba e a mulher ter uma gestação ectópica. Quando isso acontece a mulher precisa retirar a tuba uterina em que ocorreu a gestação ectópica rapidamente, já que o crescimento do feto naquela região é fatal tanto para a mulher como para o bebê.
Se a mulher precisa retirar as tubas uterinas bilateralmente, pode ficar impossibilitada de gerar filhos de forma natural novamente.
Outro modo em que a endometriose pode causar infertilidade, é quando afeta os ovários diretamente. Nos ovários, os focos endometrióticos formam cistos, chamados de endometriomas, que crescem e afetam a capacidade dos ovários de produzir gametas, tornando a mulher infértil.
Como é feito o tratamento da endometriose?
O tratamento inicial para casos mais leves de endometriose é feito principalmente por medicamentos hormonais. Estes medicamentos são utilizados somente para manter a doença controlada, estacionando o crescimento dos focos endometrióticos, já que não conseguem eliminar o problema totalmente.
Além do tratamento hormonal, são utilizados também medicamentos para alívio dos sintomas dolorosos, além de anti-inflamatórios.
Em casos mais graves, para que o problema seja totalmente resolvido, é feita a remoção cirúrgica dos focos endometrióticos, também por videolaparoscopia. Muitas vezes, quando a doença já afetou de maneira muito severa os órgãos em que está instalada, se faz necessária a remoção completa da estrutura afetada.
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